domingo, 17 de janeiro de 2010

Tapas e aprendizados

Sim, eu sou a das novelas, a dos dramas. Mas desde o começo isso que senti foi verdadeiro. Nunca menti. Só tenho medo. Você é tão idiota que não percebe? O que você pensaria se uma pessoa que te ignorou desde o começo de tudo, de uma hora para outra, dissesse que sim, que aceita, que quer? Pois eu posso te dizer, colega, eu não acreditei. Já vi esse filme, cara. Óbvio que achei que ia ser mais uma, usada, coisa descartável. Não, cara, não sou e nem serei dessas. Se você quer, você quer. Tem que ser verdadeiro, simples. Não quero alguém que me venha jurando amor sem nem senti-lo de verdade, dizendo frases feitas. Eu quero que você me venha completo. Assim, com todos os sintomas de um amor. E eu senti medo, é normal! Você nunca sentiu medo de perder algo que você ama? Acho que a pior coisa não é nem nunca ter algo. Porque se você nunca teve, você só sonha, sabe? Você só imagina coisas como Poxa como seria bom se eu tivesse, se me amasse, se... E todos os meus amores até agora foram assim. Um conjunto de “se” infinitos. Só dúvidas, só interrogações. Nunca uma afirmação. Pelo menos, nunca uma que fosse totalmente verdadeira. E eu sempre saí, digamos... intacta. Assim, sempre tem aquela dor do fim de amor, coisa comum. A dor de algo que eu nunca tive. Agora, imagina eu que sou assim toda besta, toda vou-me-entregar-de-corpo-e-alma-porque-dessa-vez-dá-certo? Não daria certo. A dor de perder algo que já se teve é bem pior do que o que só ficou nos planos e na imaginação. Você consegue ver a diferença? A dor de se ter, de possuir, de trocar todas aquelas confidências e sonhos e essas coisas idiotas para depois – simplesmente- sumir é bem maior. Se for assim, prefiro nunca ter. E pensando agora, foi bem melhor eu nunca ter sido correspondida pelo teu amor. E olha que sonhei com isso muitas vezes, muitos dias. Mas se for pra eu te ter, ficar com aquela felicidade toda, aquela sensação boa do amor – que só imagino – e depois isso tudo for arrancado de mim, prefiro nunca saber o que é o amor.

Eu acho realmente que eu não podia ter te amado. Desde o começo você sempre me tratou mal, cheio das suas frases de impacto que fazem qualquer uma desistir na hora. Mas não, eu não. Por mais que eu queira, não consigo mudar. Tenho sempre que ver o lado feliz das coisas. Que lado feliz, cara? Porque eu teimo em achar a merda de um lado feliz onde não tem lado feliz algum? Mas eu vi. Um-dia-quem-sabe-num-encontro-casual-ele-se-declare. E em quantos encontros casuais desses eu fui... Todos. Nunca perdi a oportunidade de estar lá, sempre estive presente, mesmo quando ninguém conseguia ver um happy ending nisso tudo, eu continuei. Uma frase indireta, um recado fofo pra você ler, só pra você ter a certeza de que eu ainda me preocupo, de que eu continuo aqui, pra quando você quiser, eu tô aqui, é só você vir, eu te abro os braços, te encho de beijos, porque ainda te quero. Não é assim, nos livros?


Pra que? De que me serviu todo esse tempo perdido? Só pra no final você foder com tudo e dizer que, claro, eu só faço novela, eu-não-quero-eu-não-quero.

Mas, me diz, você nunca sentiu esse medo? Pois eu sinto e sinto muito. Sempre quis, como qualquer pessoa, amar e ser amada, claro. Mas ao mesmo tempo, me acho muito idiota, que eu nem aprendi a viver ainda, que eu não estou pronta, que eu não saberia lidar com uma coisa tão... sagrada, linda, pura, como o amor. É algo muito precioso de se ter nas mãos, quase como uma vida, você entende? Por amor, as pessoas morrem, cara, as pessoas matam. Como eu, assim tão ingenua, assim tão sem experiencia em nada, conseguiria cuidar bem de um amor? Se não consigo nem manter amizades ou diálogos simples?

Eu tava sim morrendo de medo e ainda estou! Você do nada disse sim. Eu achei que era mentira. Achei que era mais uma brincadeira estúpida, vamos-ver-a-Isabel-se-descabelar-pelo-amor-de novo. Depois logo pensei: Se acontecer mesmo, como será depois? Ele vai querer manter algo, sério, ele vai falar coisas tipo mas-sempre-gostei-de-você-desde-o-começo? Pedir desculpas, na sombra de uma árvore, pegar nas minhas mãos e me dar um beijo enquanto vem um vento gostoso e balança nossos cabelos?
Não, o amor não é isso. Eu tô vivendo de ilusões. Agora sim falei a mais pura verdade: a minha vida inteira é ilusão. Quem eu tô pensando que sou? Minha vida não é filme, não. Essas cenas assim, perfeitas, só acontecem em filmes, em livros. A vida é dura. Clichê mais verdadeiro. A vida te dá tapa na cara, te faz aprender, te faz ver que, cara, ela nada tem de parecida com os contos de fadas. Eu aprendi isso tarde demais.

Sabe que eu realmente penso em só ter amores impossíveis? É algo a se pensar. Porque, raciocine comigo – se você ainda estiver me acompanhando – eu entraria no amor sem nada a perder. Eu já entraria sabendo que não ganharia nada, entraria limpa, sairia limpa. Amar só por amar. Sem esperar nada em troca. Não é uma boa? Mantém o coração ocupado – coisa essa que eu preciso, de tão idiota e romântica e sentimental e trouxa por acreditar num amor, assim, forever.

Não sei onde li, não me recordo. Quando não se tem um amor correspondido, é isso que costumo fazer: afundar nos livros com romances água-com-açúcar, um romance daqueles bem idiotas, cheios daquelas frases que tanto gostam de dizer e que, depois de alguma barreira, ficam juntos no final. Um filme daqueles cheios de choro, de desencontros, até que, as always, o mocinho fica com a mocinha, se casam, tem filhos, um completando o outro, sobem os créditos e the end. Mas, estou me perdendo. Li em algum lugar que um escritor, um verdadeiro escritor, não pode ter um amor correspondido. Então, já posso me considerar uma escritora perfeita, mesmo com todos meus erros e manias e palavras pobres e uma-eterna-aprendizagem-pela-frente? Penso, às vezes, que viverei desses amores de um dia só. Sabe? O amor do bar, da esquina, da rua. Aquele em que você se joga com tudo o que tem e vive ele por completo, por um dia, sente o amor ao seu máximo e depois o deixa ir, cansado. Não deixa de ser amor, certo? E quando uma pessoa sozinha encontra outra também sozinha, o amor acontece de imediato. As pessoas precisam de amor. Não tem como dizer que não. Posso dizer que tô me cansando dessa história de amar alguém. Mas sei que esse cansaço durará no máximo alguns dias. Depois, já voltarei a procurar o amor – coisa doida! - e a querer entrar nele com tudo: corpo, alma, coração – pois é só isso que possuo. Por enquanto estou nessa de não acreditar mais em nada. Nem no amor de ninguém. Estou naquela fase em que se olha os filmes de amor – aqueles que já citei – e se pensa coisas como que-mentira-que-farsa-ninguém-ama-ninguém-assim-acorda. E me sinto uma sem sentimentos, coloco Chavela com sua voz que dói como um tapa. Esse amor é a minha agonia, esse amor é a minha tristeza, por isso quero morrer, ela canta. E soa como verdade absoluta, pelo menos agora. Não, eu não sou dessas idiotas que pensam no suicídio. Eu continuo vivendo, cara. Sem esperança, sem porra nenhuma, mas continuo. Quer destruição pior que essa? Morrer lentamente, um dia após o outro.
Toda uma vida, estaria contigo. Não importa em que forma nem onde nem como, mas junto a ti. Toda uma vida, te estaria mimando, te estaria cuidando como cuido da minha vida que vivo por ti. Não me cansaria de te dizer sempre que é em minha vida ansiedade, angústia e desespero. E mais tapas, mais socos, mais avisos, em cada palavra que ela canta. Mas eu continuo não ouvindo o que dizem. Sou daquelas que nunca aprendem.

Relaxa. Daqui a alguns dias eu já to acreditando nessa merda toda de novo. Você não sabe que eu sou assim? Já que julga saber tanto ao meu respeito. Eu preciso acreditar nisso. Porque eu só quero amar e ser amada de volta, olha que ideal mais idiota e até certo ponto, simples e estúpido. Eu só quero dar meu amor pra alguém. Busco. Eu corro atrás disso, procuro, com uma determinação que não tenho pra mais nada. Deve estar em algum lugar,sabe? Se realmente existe, numa hora dessas, deve estar se perguntando onde estou, como serei. Procuro nas ruas, nos becos. Um dia encontro. Um dia ainda tenho meu E-viveram-felizes-para-sempre. E deixo para sempre o papel de grande escritora para ser só mais uma idiota que ama e é feliz.