domingo, 24 de maio de 2015

choro de chegada e partida (mais partida). de machucar os dedos. de desespero porque não tem seu nome no macarrão (que eu desgraçadamente estraguei no fim das contas).
em situações extremamente confortáveis, retiro os sapatos. me enterrem com eles, por gentileza.
sempre fui criança de tirar casca do machucado e arrancar band-aid devagar, que é pra doer. Nessas horas, não sei de onde herdei: se foi por parte de pai, de mãe ou do cinismo.
eu: reservatório de monstruosidades
fumar cigarros de menta ou cereja
erotismo barato
luzes de neon
me vestir com vinil.
luvas de pelica e meias de renda: cinco reais.
gosto de flores de plástico nos vasos.
falsidade imortal.
sem precisar gastar água ou minhocas na terra fértil
pouca coisa dita
boca seca
lingua rasa
dente sem uso
tirar pele da boca só pra vê-la em ritual masoquista particular:
machucar sangrar passar pomada sarar machucar
tomar chá de gengibre remédio
descer pra rua pra absorver dose diária de vitamina d.
meu corpo terreno aberto
baldio
hipocondrismos
absurdo disfórico
palavra sem graça
e eu que nunca gostei de ter pouco sobrenome
hoje sim

aprendi com o vômito e a merda
dedo médio e indicador, água gelada, barulho do chuveiro e ralo
- nunca a privada.
expulsar expelir tirar arrancar extrair sai, xispa, vaza.
aos tropeços, escolhendo as linhas da calçada feito as da mão. importantíssimo.
aprendi a rasurar. gosto do preto na página. correção. só por cima. atropelo
respirar com ajuda de aparelho

marcapasso.
dança com sapatos infinitamente maiores.
britadeira no concreto
fruta caída
de unha cortada
me machuca o rosto?
uma cicatriz na perna.
acidente de percurso,
18 dias estou sem.
Quebrei promessas
beber leite
o barulho, a poesia marginal
mastigação, dente de leite cariado
te passo pela boca inteira.
frente verso céu da boca estrela d'alva.
balões coloridos, perna comprida
acariciar pra dormir
efeito contrário
língua no ouvido
me cortar em pedacinhos pra levar nos bolsos quando é domingo
brincar na calçada desorientar devorar com gula e dedos manchados em vermelho
britadeira na carne
corpo no concreto
leve osso passo dado cuspe e dois cigarros.
um tapa, três, filete de sangue e a marca dos dedos
efeito de beijo. carícia de pai
predileção
devota aos pés brancos em pose ridícula
visão turva
dedo na boca aberta
hálito quente
ferrugem e osso
cessou o barulho da rua.
cárcere. memorial. diário mal escrito. é carvão, brasa. o sexo. Codinome diverso. rosto tampado, perna aberta.
um guia de todas as pintas que trago no corpo pra você seguir com os olhos com os dedos com a língua
poema inverso e o sol das 10 batendo no rosto recém envelhecido
21 anos sem ter sentido nada, com vestido e penteado de quem tem 12.
eterna dolores. Dolly Schiller na linha pontilhada. Sentindo o concreto, o concreto, o concreto, pelo corpo nu enquanto sentada no chão de perna aberta - menina insolente!
pelos do corpo, mapa cartografia geografia externa
abordagem
manobra de risco
pouso de ave
estorvo incômodo nó na garganta dor nas artérias unha encravada pessoa indigesta. Pede antiácido, nada.
calcanhar de aquiles
pulseiras e miçangas
zona de conforto, meridiano.
presságios e passagens
queimar pavio, navio em alto mar
chama de vela e o cheiro de fósforo
segue a onda do meu corpo
arpejo, arrepio
palavra arredia e censurada. Suor.
perdi o ritmo de repente
o vem e vai
contração (que nada tem a ver com não-agir)
que o corpo urge movimento
encosta montanha areia movediça
ancoradouro
se meus órgãos internos fossem aptos a comunicação verbal, talvez me dissessem algo como desculpe-nos pelo transtorno
filete de sangue no punho da caminha novinha em sangue, em folha, ato falho. vida falha. que coisa.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Gatilho é palavra engraçada. Tiro certeiro, apertar a arma, questão de vida ou morte. Tudo é sim ou não. O talvez é só pros loucos e pras crianças. Me foi dada a chance da escolha. Pisar na linha. Automatismo psíquico. Paranoia ou mistificação?
Branco
Sinto o cheiro do branco vejo o branco sinto o branco ouço o branco
Quatro paredes acolchoadas
Ruído
Cair do precipício
É minha essa mão com caneta?
O remédio faz efeito na hora errada nada programado e a vista embaça não vejo papel. Sensação se mistura. Silêncio. Minhas unhas voltaram a quebrar e os cabelos voltaram a cair eu queria sair daqui agora e fumar mas a nicotina anda me dando ânsia. Hoje andei relendo cadernos. Não mudei nada. Não sou nada nunca serei nada não posso querer ser nada é meu mantra particular 108 vezes canto quando acordo olhando pro espelho esperando chamar todos os meus monstros interiores eu filha do carbono e do amoníaco esperando a hora certa pra enfiar a cabeça no forno que nem Sylvia Plath ou sair recolhendo pedrinhas dos lugares por onde andei e enfiar tudo em um casaco preto pra me jogar em um rio ou lago ou poça ou saliva da tua boca que nem Virginia Woolf.
Que jeito doce de morrer. Que jeito estúpido. Ninguém será tão feliz que nem nós dois.
Quando eu faço o teste de Rorschach e só vejo seu rosto, que é que eu faço depois?
Tem alguma coisa entre duas linhas paralelas, eu sei que tem, mas o que?
Uma coisa que não tem nome ainda? O amor? A solidão? A hora não passa. E eu caçando palavra como faminta, mendiga.



(exercício feito para o CLIPE - casa das rosas. Escrita ininterrupta, duração de 10 min, proposta de Fábio Weintraub.)
te olhei nos olhos: nada
te toquei mansinho: nada
tirei peça por peça a meia luz: nada. alguma coisa se perdeu. estreito que passa entre nossas duas partes.
pupilas vazias, raízes frágeis.
sobre a incompreensão da linguagem.
as coisas invadem as outras coisas sem pedir licença. Eu sempre fui bicho educado. Talvez por isso não me apropriei de nada ou de ninguém
memória endurecida, choro de descascar cebola, de repente virei gente grande
Quando nos testes de Rorschach eu só via você: desperdício de tinta
barulhos ruídos da vida a dois
o banho os hábitos os horários o som do papel higiênico e da descarga, o assoar do nariz a mastigação. Se rega a relação feito planta - as que eu recém comprei pro quarto esperando que me roubem o oxigênio todo enquanto adormeço
Isabel se alimenta, contando calorias, do sonho alheio. Tabela nutricional: não se permite os pães, as massas e os gigantismos oníricos. Isabel sonha grande mas dá passos de chinesa, pés de lótus. Não lhe dão, entretanto, graça ou elegância. Só pena. Gosta de ouvir vozes de toda gente e da deselegância de quem tem fome na hora do almoço. Ela, que não se permite, que não consegue, que não goza nunca o banquete.
Nossa relação é sempre uma conta de menos.
O presente, de muletas. O presente, poesia mal feita. Eu e a escrita em um relacionamento ruim
o vazio tem grandes cabelos e barbas com cor cinza preto branco e vermelho. Vem a noite e se deita - meu leito é seu leito. Vai embora cedo enquanto adormeço. Me beija, apaixonado, me vem, protetor, mas na maioria da vezes só me pede cuidado e me deixa pão e café, sem açúcar. Amante discreto, trabalha a meia-luz e ruídos baixinhos. Sem rastros. Faz presença no retrato, no cinzeiro, no lençol.
relação de quatro paredes nas lacunas do dia. Não chego a ser metro quadrado. De mãos dadas com a solidão, atravessamos a rua - a solidão me põe do lado de dentro da calçada e ri das minhas piadas sem graça.
empáfia apatia epitáfio pífio preciosa epifania
Músculo involuntário
respostas incontroláveis
fuga número 6
amor membro-amputado
pessoa-peste
coração antígeno anticorpo
an uncontrolled response. O amor? A pulsão? O movimento? Padrões me interessam
Desilusão devaneio a boca cospe areia e decepção.
Essas não são minhas palavras ou minha boca, esse não são... e uma lista.
trago no peito deserto e ninguém nunca suportou meus vícios de linguagem
ânsia torpor sudorese dor tontura fadiga choro fácil uso abusivo de laxante e pílula pra dormir um cigarro, por gentileza?