segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Gotas

Aquelas luzes machucam meus olhos
Pois tudo em mim parece frágil
Linha tênue, esperando pra quebrar.

Os trovões doem. Aparecem roxos, fortes, frios e vão de encontro aos meus olhos que são fracos demais, desacostumados demais, meus demais.

O barulho da chuva me irrita, me causa pavor. Som eterno, imutável, água indo de encontro ao vidro frio da janela. Amantes que só se encontram em dias de chuva. Gotas descendo, sinuosas, pelo vidro.

E eu, de dentro, só observo, alheia a tudo. Não sou parte da chuva, estou seca aqui, protegida. Pensando assim, não sou parte de nada. Vejo as coisas, alheia, coadjuvante. O personagem principal da minha vida é outro alguém que não eu. E sei que não sou o personagem principal na vida de ninguém. A chuva aumenta. Trovões. E os clarões voltam a rodopiar por meus olhos cansados. As lágrimas rolam e caem como as gotas da chuva na janela da sala.

Mas a chuva é o encontro dos amantes. Minhas gotas são de solidão. E, de pouco em pouco, o céu para de chorar. Já mataram a saudade – eu penso. E os clarões me deixam em paz. Só meus olhos que teimam em expulsar as gotas sem parceiros-vidros. Gotas solitárias, gotas-eu.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Prazo

E eu penso tanto, amor
Que um dia você vai me esquecer
E não vai lembrar nem meu nome
Cotidiano, vai passar, eu sei

E eu quero tanto, amor, que isso seja eterno
Mas sei que chegará o tempo
Paixão com data de término
Eu invento novos jeitos pra te ter
Só por mais alguns instantes.

Dói tanto, amor, saber que um dia
Não vou mais acordar pra você
Pensando que irei te ver
E já amanhecer sorrindo

É inevitável, o tempo passa.
E cada dia me aproxima ainda mais.
Paixão com data marcada
Sem nem saber se teve início.

O pranto é tanto
Mas você não sabe
Isso que te conto.
Que imagino nós dois juntos
De mãos dadas.

Levo a vida no meu ritmo
Pra não sentir saudade
Levo a vida a passos lentos
Só pra ter a sensação de ser eterno.

E desejo tanto, amor
Que posso jurar que é verdade
E até penso que meus sonhos
São realidade.

domingo, 18 de outubro de 2009

Outra vez

Não sei o que acontece. Não estou doente. Não tenho febre, não tenho nenhum sintoma que indique que tenho alguma coisa. Mas então por que estou agindo de modo tão estranho?

Eu acho que sei a resposta. Acho que sei mas tenho medo de falar. É como quando se tem uma paixão e, por mais que esteja na cara e todos saibam, você não afirma.
Mas não há mais o que fazer, já me corroeu inteiramente. Essa doença que não é no corpo, na mente, no coração. Essa doença – se é que posso chamá-la assim – que surgiu de repente.

A minha doença não está em nenhum desses lugares. E não há cura, eu sei.
É ruim tê-la. É horrível. Mas se só afeta a mim, não me importo. Já deve estar a tempo demais no meu sistema, não há como tirá-la assim. Já deve ter se infiltrado em lugares que nem imagino.
Só não quero que isso vá para os outros que amo. Mas, de alguma forma sinto que está indo. E não posso aguentar isso. Essa doença é algo meu, não posso compartilhar.

Pois já disse que não posso curar. Como cuidar de alguma coisa que já corroeu a alma completamente? Sim, a alma. É aí que minha doença está. E começou a atingir as pessoas ao meu redor. Por isso, acho melhor me isolar. Parece que sempre falta alguma coisa e isso me deixa inquieta. Eu quero achar essa coisa que falta mesmo sabendo que ela não está nas ruas ou em outra pessoa: está em mim mesma. Só que sou um labirinto, indecifrável. Nem eu mesma me conheço realmente, não sei qual é meu limite. Até onde aguento isso?

Não sinto mais nada. Cara, logo eu. Eu que preciso estar sempre sentindo alguma coisa. Algum amor, algum ódio, algum arrependimento.

Preciso me encontrar. Já tentei tudo. Conversas, novas pessoas, cursos, festas, tudo. E fico feliz por algumas horas – ou pelo menos penso que sinto felicidade. Depois vem de novo aquele sentimento de coisa ausente. Aquela droga de sentimento que me faz querer chorar, desabar no chão, pedir um carinho. Os olhos em brasa, ácido agindo dentro de mim me corroendo, acabando, destruindo.

Eu só quero uma pausa...mas não posso exigir. Eu quero outra coisa... só não sei exatamente onde essa coisa está. No dia que souber, me jogo nisso com tudo. Pelo menos, com tudo o que me resta.

Eu quero, eu preciso de outra coisa. Andar sem rumo por ai, conhecendo tudo, provando qualquer coisa. Quem sabe assim o gosto volta. Quero me sentir viva, como a muito não me sinto. Porque, nesses últimos meses, não estou sendo a protagonista da minha própria vida.

O que foi que eu me tornei? O que eu deixei pra trás?

Eu quero ser capaz de sentir. De novo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mentiras-verdades

Se foi verdade ou se não foi não importa. Eu já tô nessa a tempo demais. Nem que eu quisesse, eu não poderia mais volta a ser o que era. Eu não posso ser a mesma de antes, já que sou muito mais você do que eu mesma. Eu já tô tão cheia... Se foi mentira ou não, do que vai adiantar? Se eu já não vivo mais minha vida? Se sou inteiramente você e de nada me pareço com o que fui? Pois é essa a verdade. E a culpa nem foi sua. Eu agarrei o que pude, pra não desabar. E agora isso é tudo o que eu tenho. E é a mais absoluta verdade. Já não sei mais o que é ser eu mesma, o eu antes de você. Realmente existiu? Começo a achar que era só uma farsa. Agora sim eu me sinto completa, posso afirmar. Mesmo que essa sensação de estar completa seja falsa. Eu me sinto bem assim. Não importa se fala a verdade, se mente. No seu olhar, encontraram mentiras. Eu não ligo, realmente. Pode mentir, sorrir, falar com quem você quiser. Contanto que eu ainda tenha a sensação de estar completa. Posso ser egoísta, mas nunca fui, estou sendo pela primeira vez. Deixa eu pensar um pouquinho em mim, vai. Deixa eu afirmar ser um pouquinho completa, um pouquinho feliz, um pouquinho alguma-coisa-que-nunca-fui-e-sinto-falta. Deixa. Porque sabe, eu não consigo ficar nervosa. Eu não consigo te dar as costas, eu não. Se tudo foi farsa, então deixa assim. Não vou querer consertar o passado. Só fica assim comigo como estava sendo. Eu não ligo, mesmo! Porque eu preciso. Você não sabe que agora já não posso voltar atrás? Você não sabe que agora se fecho os olhos é você que eu vejo? E invade meus sonhos, e invade meus dias, e invade tudo o que eu ainda tenho. Compartilho as coisas mais secretas. Se eu preciso disso pra continuar... Eu não quero saber, não me interesso em saber se mentiu. Eu acredito porque preciso acreditar que você só me diz a verdade – Mesmo sabendo que é impossível alguém só dizer a verdade. Mas eu quero acreditar que você é esse alguém. Se eu não acreditar nisso, desabo. Então me deixa assim, me deixa. Porque até agora estava tudo bem. Eu não vou virar as costas. Mesmo todos falando que é o errado, sigo em frente. Porque quero. Porque preciso.
Eu tentei, juro, tentei. Tentei ficar brava, mentir, ignorar. Tentei mas simplesmente não sou eu. Não consigo. Sorrisos e olhares me encantam e me fazem esquecer qualquer raiva. Sou dessas bobas mesmo, as marionetes nas mãos de alguém. É totalmente fácil me controlar e eu sei. Mas não acho ruim. Se você me guia, deixa estar. Eu deixo você me levar. Não me diz nada, não vou pedir explicação. Porque é isso que eu quero. Só continua como antes, por favor. Eu esqueço isso. Esqueci tantas coisas... Não importa. Voltar à superfície eu não posso mais. E nem sei se quero. Estou bem aqui, no escuro, no fundo de algo que nem sei o que é. Estou bem nas teias de mentiras-verdades. Estou bem.

domingo, 4 de outubro de 2009

Ciclo

O encontro. Frases tímidas. Esperança. Saudade de alguém. Solidão. Abrigo. Braços que amparam. Palavras doces. Sonho. Amizade. Sensação boa. Coisa proibida. Olhares estranhos. Sentimento novo. Palavras medidas. Gestos pensados. Quatro palavras. Dor. Segredos. Reconciliação. Olhos nos olhos. Timidez. Músicas. Encontros. Palavras não ditas. Vontade. Proibição. Ritmo frenético. Coração acelerado. Companhia. Paz. Sorrisos. Sem preocupações. Vergonha. Sensações. Poemas escritos. Falta de coragem. Textos no fundo da gaveta. Memórias guardadas com carinho. A sensação de estar completa.

Mergulho sem volta

Porque eu já estava mergulhada demais nisso. Sem a mínima chance de voltar a superfície. Eu já tinha ido onde nenhum outro havia ido. Até o fim, até onde eu consegui. Mergulhei de cabeça e não digo que mergulhei de uma vez só, mas foi rápido.
Foi tão rápido que nem perguntei se era isso mesmo que eu queria – mesmo sabendo que, se mergulhasse, não poderia voltar atrás. Aquelas atitudes que se faz e só depois se questiona: foi assim.

Não me arrependo, daqui onde estou. Mas agora surgem dúvidas, surgem interrogações em minha mente.

E fiz isso que fiz por saudade. Fiz por sentir falta de alguém. Mergulhei de cabeça no novo, no inesperado, no proibido. Mergulhei só, mergulhei comigo mesma e mais nada. E enquanto descia, não pensava em coisa alguma. Só era capaz de ver as alegrias que eu teria, se chegasse até onde ninguém chegou. Só quando cheguei perto do fim, fui tendo dúvidas. A possibilidade da mentira. Manipulação? Pois nunca havia pensado. Então, tudo o que fiz, minha descida dolorosa, meu mergulho, não foi nada? Aquilo que pra mim tinha sido um passo tão grande, uma conquista, pra você não passou de atuação?

Eu me joguei de cabeça, sem perceber se você estava fazendo o mesmo. Só quando cheguei ao fim, percebi que você permanecia na superfície. Mas não tinha volta pra mim. Eu estava fadada a ficar no fundo, presa naquele emaranhado de fios e sentimentos desconhecidos. A água me invadia, com força, devagar, intrusa. E ia de encontro ao peito, a mente. Em minutos, não pensava mais em mim. Eu era só você. E continuava ali, afundando cada vez mais no desconhecido- que era tão bom! E você me olhava da superfície, alheio a tudo aquilo, manipulador.

Daqui do fundo, não consigo te ver nitidamente. As vezes penso que é melhor, pois não vejo se fala a verdade ou mente. Não sou capaz de ver seus olhos e- assim- não caio mais em suas mentiras. Ao mesmo tempo, me sinto sua escrava, dependente. Pois a única coisa que me guia, daqui da escuridão, é sua voz.

sábado, 3 de outubro de 2009

Como atravessar Solidões

Aprendi a atravessar dezembros, setembros, janeiros.
Sempre só, como um vagão sem passageiros.
Eu ia me entregando a sorte
Rumo ao sul ou ao norte
Ia para onde a vida me levasse.

Fumava um cigarro, sem pressa
A solidão como companheira, velha conhecida
Minha alma não mais se expressa
Há tempos que foi esquecida.

E se chover, ficarei só
Com meus pensamentos banais.
Naquele quarto de hotel que era nosso e
Não voltará a ser jamais.

Tomo um drinque, pra me esquecer
E me jogar nos braços de um homem
Em uma rua qualquer, me perder
Enquanto as boas mulheres dormem.

Mas eu nunca fui certinha, eu sei
Sempre fui a que no mundo anda perdida.
Foi por amar demais – pensei-
Foi por amar demais que acabei ferida.

Conhaque, licor, qualquer coisa
Que umedeça meus lábios a tanto ressecados
Pois eu sei que o coração permanecerá seco
Depois de tantos amores chorados

E ouço aquelas mulheres, perdidas
Com as vozes roucas, cantando vidas em vão
Que se entregaram por completo
E morreram em completa solidão.

Bebo um drinque e depois
Me entrego a qualquer um que jure um amor eterno, sem fim
Mesmo que o eterno dure um dia ou dois
E que ele vá embora, sem mim.

Assim atravessei meses inteiros
Fevereiro, Maio, Agosto
E tive amores passageiros
Com pessoas que nem lembro o rosto.

O que são as alegrias

Alegrias! Alegrias?
O que são?
É como quando a gente sente
Algo de diferente que vem
Direto do coração?

Alegrias. Alegrias.
Significados não me importam
Quero senti-las!
Alegrias.
Se é como tristeza conheço muito bem,
Pois é como se eu não vivesse sem.
Tristeza conheço a minha vida inteira
E cada vez que ela aparece é de uma nova maneira.
As vezes, vem rápida, tiro no peito
As vezes demora tanto.. e é tão incerto...
Será que as alegrias também aparecem assim?
Sem mais nem menos, só surgem
Tomando tudo que há em mim.

Se é isso mesmo, é bom. Alegrias repentinas.
Como as estrelas vespertinas
Que eu vejo da janela.
Quando escrevo as poesias
Cheias de amor e lamento
E de um certo sofrimento
Enquanto penso só nela.

Alegrias vindas de onde? E melhor ainda, de quem?
Porque certamente devem pertencer a alguém.
E esse alguém não sente falta da felicidade que perdeu?
E sabe que ela passou a ser de alguém como eu?
Que nessa coisa de alegria não possuo o menor jeito
Porque é uma coisa nova que me invadiu o peito.
E se ele a quiser de volta, eu terei que devolver?
Arrancar alegria de mim, rápido assim, deve doer...

Se for desse jeito prefiro nem tê-las!
Para não cair na esperança e depois vê-las
indo pra longe de onde estou
Prefiro ficar com a minha tristeza
que eu sei que está sempre comigo
E já é mesmo como se fosse um amigo
a zelar e ir para onde vou.

Um só

Solidão e tristeza andam lado a lado comigo
Como se fossem um só, meu amigo.
E eu não me sinto sozinho, me sinto completo.
De paz e amor repleto.
Como se não precisasse de nada mais,
Como se, só assim, pudesse viver em paz.
Em mim mesmo encontro a companhia
Que nesses anos todos tanta falta fez
E vejo que assim foi bem melhor
Pois não vou sofrer outra vez.
Se vivo bem assim desacompanhado
Para que viver com alguém ao meu lado?
Vivo sozinho e assim sigo
Fazendo do mundo o meu abrigo,
Sem me apegar a nada nem ninguém.
Para que não me usem, também.
As vezes sou fraco e sinto falta.
A falta de ter alguém pra falar dos sonhos
E fazer dos meus dias mais risonhos.
Porém volto à realidade
E vejo que não há ninguém esperando por mim
Mesmo que eu queira, essa é a verdade
E será essa até o fim.

O dia em que o Sol encontrou a Lua

Se eu sou o Inverno, você é o verão.
A primavera e o outono
Se sou a companhia, você é a Solidão.
A lucidez e o sono.

E se estivermos errados?
Vida inteira, jogada pelas ruas.
Mantenha seus olhos cerrados...
E minhas mãos nas suas.

Naquela noite, estava linda. Andando, toda misteriosa.
Não conseguiria descrever nem em poesia ou prosa.
Olhou pra mim, aquele olhar marcante. Gente que sabe o que quer.
E eu já era todo seu. Naquele instante, te quis como minha mulher.

Meu mundo nada parecia com o seu
E mesmo assim, eu quis te conhecer
Eu era tão tristeza, você tão amanhecer...
Que nem parecíamos estar sob o mesmo céu.

Eu era tão noite, você tão alvorada
Que quis fazer em ti minha morada.
Por ser tão diferente, quis te ter ao meu lado
E te encher de amor e afago.

E porque não poderia dar certo?
Se é sempre bom ter alguém por perto
Para falar sem precisar fingir.

Dividir sonhos, medos e desejos
Compartilhar abraços e beijos
E com você chorar e rir...

Perfeitos assim

Se eu voar, quero te ter junto comigo
Pra fazer do seu abraço o meu abrigo.
E que faça chuva ou que faça sol
Te cantarei músicas em ré bemol
E iremos por ai, sem destino feito
Só com a coragem invadindo o peito
Pode ser de tarde, ou de noite, enfim
O que importa é que terei você só pra mim.
Para ir ao campo, à praia, ou a qualquer lugar
Sair de casa já é se aventurar.
Pra nós, todo o amor que possa existir.
Para que eu possa olhar pra você e sorrir
Nada mais importa, nada parece certo
Se não te tenho aqui por perto.
Somos como noite e dia,
Tristeza e Alegria.
É como um sim, e eu o não.
Açúcar com Limão.
É como o infinito, e eu o tempo
Você o Sol, eu o Vento
Mas somos tão perfeitos...tão iguais
Imperfeitos assim como somos.
Que nem o melhor poeta, em seus sonhos,
pôde ver perfeições tão reais.

Felicidade Repentina

E era claro mas tão escuro
Difícil mas tão puro...
Que nem sabia identificar.
E fiquei em cima do muro
E pensei: “Como é duro
aprender a amar...”

Felicidade lutando contra a dor
E longe disso tudo, salvo, está o amor
Eu só ouço o som da sua voz...

O quarto na penumbra, sorrisos que não pude ver.
O homem de rua, sem teto e aquele que se acha completo, sem o ser.
Aqui nessa casa estamos a sós.

Só encontro a dor e já não vejo a paz
Nem sei se um dia serei capaz
de perceber que nada é perfeito

Assim como há os que estão sempre bem,
tem sempre alguém com ferida no peito.

Quando eu me sinto vivo, eu imagino um mundo ideal.
Onde todo pôr do sol é de deixar sem ar
E todo nascer de dia, uma nova surpresa

Não há silêncio sem ruído
E nem manhã sem sol nascente
Não há achado sem perdido
Culpado sem inocente.

Porque só enquanto eu respirar
só enquanto meu coração bater
Eu vou me lembrar de você
e vou me fortalecer.