segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tempos melhores para o mundo. Tempos melhores para mim. Eu preciso. Preciso desse tempo, tempo sem tempo, tempo de pausa. Eu toda sou uma vontade de coisa melhor. Escrito nos braços, nos papéis, nos vidros, nas paredes. Mensagens de amor. Está tudo tão triste. É o tempo? O tempo de fora, o tempo de dentro – esse muito mais.

Chuva tem simbolismo bonito: o de renovar as coisas, levar embora as coisas más. E quando ela leva também as boas? E quando esse simbolismo de renovação já não funciona mais e a chuva parece é só trazer a solidão?

Debussy ao fundo. Escuro. Nessa época do ano, as pessoas deveriam se unir – e não se unem. As luzes deveriam me deixar alegre, e não deixam.

É sempre chuva, nesses dias, sempre chuva. A chuva o levou embora de mim. E essa cidade é tão grande, essa cidade é tão grande, submersa nas águas, submersa nas glórias de gente sem nome. Como te acho? Você tem nome pra mim. Pra mim e só.

Ai, essas luzes azuis me irritam. Essas gotas no vidro, essa solidão de metrópole. Pessoas se tornam apenas um borrão que passa e eu nem vejo o rosto, coberto pelos tantos guarda-chuvas. Até o caminhar se torna mais lento e cuidadoso.

Precisamos de dias melhores. E isso significa necessariamente dias sem chuva. Dias que já amanheçam dias e não como verdadeiras noites. Um dia assim clarinho, de céu limpo.

Precisamos de um brilho que-quase-cega, uma coisa que nos faça ver, por dentro, que depois da chuva, sempre tem sol.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Descobrir um novo uso para os vidros embaçados da varanda: o de escrever poesias.
Escrevo o teu nome inteiro do lado do meu com corações com sua caricatura com palavras de amor de livros ou minhas e as gotas da chuva começam a sumir, escorrer pelo resto do vidro, deixando aquela marca que se assemelha a um choro. Nunca havia percebido que, quando se escreve assim, as gotas vão caindo até o fim do vidro, parecendo lágrimas. São sim, lágrimas. Só lhes falta o sal. A dor do choro já têm. É a dor de quem escreve com os dedos, de quem faz o vidro embaçar de novo e de novo só pra escrever poemas e desenhar rostos que, logo, se apagarão novamente, sem registro algum. Quase como se não existissem. No fim, eles não existiram. Escrever no vidro é colocar para fora as dores, é como dizer para a cidade um amor que nem você sabe. É afirmar ao mundo, mesmo que o mundo, pra mim, não passe de uma avenida movimentada: eu te amo.

Eu te amo pelo tempo que a chuva dura. Eu te amo pelo tempo que o vidro permanece embaçado, pronto para receber segredos que não colocaria mais em lugar nenhum. Posso esperar que a chuva dure para sempre? Mas eu sei que depois sai o sol e leva tudo embora. Nesses dias, há chuva sem parar. Chuva desde quando acordo, chuva que me espera na varanda. Como se os astros, os deuses, os fenômenos da natureza adivinhassem e dissessem: vem que está tudo pronto, vem que já é hora de dizer ao mundo, vem que te cuido e te encho de zelos e cuido do teu amor por ele. E eu me entrego.

É sempre nublado. Esse tempo nem claro nem escuro que me deixa assim. É sempre esse cheiro de água, de lágrima de tanta gente. A chuva prepara tudo pra mim. Embaça os vidros, prepara o que preciso. Só falta escrever. E lá vou eu, descalça, cheia de uma vontade inexplicável. Seria tudo escuro, não fosse pelas luzes que nessa época do ano invadem todas as casas. Tudo converge para uma única coisa: o amor. Menos o meu. O meu nem é meu mais, o meu está no vidro, o meu está colocado para o mundo inteiro ver, o meu é em forma de desenhos, sem cor, feito com o dedo, simples, arcaico, bruto, como acho que devem ser todos os amores – e não são.

Eu queria era encher o vidro de tinta. Uma coisa que fosse mais eterna, uma coisa colorida e bonita que todos, acho que até você, pudessem ver. Mas nunca fui assim tão artística e sempre fui mutável. É melhor deixar com a chuva. Assim, a água também leva o que coloquei lá, numa forma de levar embora também da mente. E nem sei se nosso amor já ganhou cor - por não ter certeza se vale a pena o colorir.

Isso já está me doendo os olhos, dando aquela vontade de fechá-los e só acordar amanhã. Mas amanhã também estará chovendo, e pelo resto da semana, do mês. Chuva é um estado interno, não de fora. Acho que ela é muito mais estado de espírito do que fenômeno da natureza. E eu, no momento, estou totalmente dentro de uma tempestade daquelas.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Obrigada. É o que eu posso, é o que eu preciso lhe dizer.
Eu sei que deve estar se perguntando o por que. Deixa, deixa que até o fim eu explico tudo. Preciso me concentrar, deixe-me escrever, sim, por favor.

Só essa palavra é importante agora: obrigada. Sim, eu tenho tanto pra te agradecer e pedir e tantas outras coisas! Mas você sabe que eu caminho assim, a passos lentos, sem pressa.

Devo começar de que modo? Não sou boa dizendo essas coisas. Sim, vou do meu jeito. Eu só queria dizer que eu vi essa coisa, esse sentimento de não-sei-o-que crescer. Eu vi e ainda sou capaz de ver. Esse sentimento que não sei identificar. Nasceu assim meio sem esperança, jogado no nada. E quem diria que ele iria crescer, assim lento mas de uma forma bonita? E iria crescer tanto que quase me tomaria inteira. Cresceu assim em você também? Olha, você não liga que eu fique falando assim dessas coisas, não é? Eu preciso disso, pelo menos hoje, pelo menos agora. Eu ainda não sei o que sinto, não lhe atribuí nomes. Só sei que foi boa – essa descoberta assim, do nada. E quando descobri que isso só crescia e invadia as células, se impregnava, fixava. Foi bom.

Era como se todos os dias eu acordasse para algo estranho. Eu não sabia o que iria acontecer. Como se o céu, os astros, as pessoas e eu mesma estivesse em uma constante metamorfose, como se tudo estivesse, enfim, vivo? Não sei se é a palavra certa. Não importa...

E tinha tanto medo. Pois parecia realmente se importar com o que sinto, penso. E ouvir o que falo. Não sei, felicidade, quando vem assim tão forte e de repente, me dá um certo receio. É o medo de perder as coisas raras.

Em todos esse tempo, com você, pude aprender mais de mim mesma. Certas coisas que nem eu sabia que possuía. E vi a beleza da manhã bem cedinho e como é lindo o modo como as pessoas se relacionam. Afinal, eu nunca tive a sorte de achar alguém que respondesse. Pude sentir tudo o que tantos outros sentiram antes de mim e que me era completamente desconhecido. Vi como isso pode ser quebradiço, frágil e ao mesmo tempo simples. Coloquei em risco essa coisa-que-não-sei-o-nome por diversas vezes mas você sempre esteve pronto para me ouvir. Assim como agora. E acabávamos sempre resolvendo tudo. Você vinha sempre com aquelas palavras bonitas, de carinho, sempre mais certo, mais calmo. E eu sempre ia com minhas palavras poucas, simples, daquele jeito nervoso e sem jeito, onde muitas das palavras se atropelavam e perdiam o sentido.

Ainda possuo as dúvidas. Ainda morro de medo, nunca vou parar de tê-lo. Mas você, durante esse tempo, fez e me faz muito feliz. Obrigada por se fazer presente de tal modo e com tamanha intensidade em mim. Os poucos diálogos tímidos, as poucas demonstrações de carinho. Obrigada por tantas outras coisas que não sei como dizer...

Obrigada pelo que foi e pelo que ainda virá. Pelos aumentos de meus batimentos cardíacos, pela felicidade repentina que me invade a todo instante, pelas sensações diversas que me traz.

Prometo não deixar morrer, prometo dar-lhe pelo menos um nome, prometo colocar ali tudo o que tenho. Assim como espero que faça o mesmo. Para que a coisa-sem-nome possa ficar mais forte, mais nossa, mais bonita.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sêneca

Eu que era tão boba,
Eu sempre tão apaixonada
Acabei colocando uma máscara
Só pra te agradar
E já virou parte integrante de mim.
Já não sei como é viver sem ela.
Vivo sob esse disfarce, por tentar te seguir.
Finjo ser artista, escritora, romântica.
Mil pessoas em uma só pessoa.
Minhas mentiras de cotidiano viraram verdades
E eu me tornei o que a máscara previa.

Você também usa tantos disfarces
Que nem sei se conheci o verdadeiro.
E nem sei se o que me conta, um dia, aconteceu.
Tantos em um só que até me perco
E corro o risco de nunca mais me achar.
Enigma da minha juventude
Herói e Bandido do meu tempo
Até teus olhos parecem mentir!
Ai, se eu fosse capaz de retirar as máscaras...

Vivo tão aprisionada dentro de mim mesma!
Eu queria mas não posso lhe dizer
Nem a metade do que sinto.
Preciso permanecer assim, distante.
Você também precisa ficar.
Ao alcance dos dedos, longe do coração...
Para que nada aconteça
Porque não pode acontecer.

Eu precisava, eu precisava lhe dizer
Mas a mentira, se acabar, só trará dor
Para ambos os lados.
E eu corro o risco de nunca mais me recuperar
Ou me achar de novo.
Mesmo que nós dois usemos máscaras
já aprendemos a nos conhecer assim.
No fundo, eu sei que você mente
No fundo, você também sabe que minto
Mas minha verdade é mais fácil de ser encontrada:
só olhar nos meus olhos, só ver meu sorriso diário.
Em você, não há como.
Eu busco, busco, busco e não sei se acho traços do real.
Teus olhos guardam encantos...