segunda-feira, 26 de julho de 2010

Você volta... mas some. Anos perdidos, sem você estar presente. Não sinto raiva, nem vazio, nem nada. Fui preparada para isso, ao longo dos anos.

Mas ao te ver hoje, por uma dessas coisas que acredito ser destino de tão sincronizadas, algo mudou. Fui eu?

Te abracei, apertei tuas mãos com uma força que antes não existia - era um laço frouxo e pronto para desfazer, não mais que obrigação de alguém que não sente, mas respeita a tentativa de redimir o erro - talvez em uma tentativa de relembrar uma infância ao teu lado que não existiu ( tua mão sempre maior que a minha e, acima de tudo, segura.)

Eu continuo sendo a criança que você não viu crescer, a que não te viu nos aniversários ou ao meu lado na cama, para livrar-me dos pesadelos. Como se sua presença pudesse afastar tudo. Naquela época, podia.

Páginas e páginas passam sem que teu nome fosse citado ao menos uma vez.

Te conheci sim. Por fotos e histórias distorcidas pelo tempo, pela memória. Em uma linguagem com que se trata dos mortos. E
senti tua face: sem emoção, estática, fria. Uma foto 3x4 na carteira.

Minha história ainda não acabou... As páginas continuam correndo, sendo escritas. Ao lê-las, gostaria de ver teu nome. Gostaria de viver a infância, dessa vez ao teu lado. Você sabe que continuo sendo tua menina. Eu ainda espero, eu ainda quero. E quero tanto...

domingo, 18 de julho de 2010

Eu consigo - mas acho que sempre consegui - sentir o peso da tua mão. Contraste intenso: tuas mãos tão quentes nas minhas tão frias. Teu calor me invade mas não é capaz de acabar com meu frio.
Será por causa do tempo? Sempre tão curto, escasso (e parece assim só para nós). Fragmentos de horas - nem isso. Não mais que minutos, não mais que o casual.

Ainda tenho o peso da tua mão e teus dedos longos nos meus. Cinco segundos eternos. O mundo parou?
Um som lento, moderatto. No fundo da sala, um violino. Não era triste, lembrava o mar. Me agarrou e puxou para dentro. O homem se contorcia, olhos fechados, quase um nirvana. Dedos longos que se moviam sob o arco, tão rápido que eu quase não podia ver. Sol - ré - la - mi. Sua mão se movia, frenética, no instrumento musical. E eu podia ver, de onde estava, o mar surgir na minha frente. E nadava, nadava... sem nunca chegar a lugar algum. A nota era baixa, ficava alta, tornava-se baixa novamente. Já não via mais violinista nem sala. A música reinava, me absorvia, as notas me alcançavam pelo ar. Por um momento, julguei ter o próprio oceano em minha sala e quis, mais do que tudo, me afogar nele.