segunda-feira, 23 de abril de 2012

Menina com joelhos ralados
sob a meia fina branca, rasgada.
Band-aid nos cotovelos
e saia rodada.
Andando pelo wild side de Lou Reed
Procurando pelo seu James Dean
ou seu grande Humbert H.
Com metros e metros de renda
e laços de cetim no cabelo
Se perde nas ruas pra que alguém a encontre
e talvez leve pra casa (certamente não a dela) esse animal perdido
com vontade de cuidar e fazer posse
Seu material apertado contra o peito
cadernos e livros escolares
mastiga chiclete não pensa em mais nada
Faz a bola, olha para algum deles
O rosa claro de menina nova
cheiro de tutti-frutti, primeira infância
e lábios tão vermelhos
Sabe que nenhum deles têm a coragem de se aproximar
e os machuca à distância
mexendo no cabelo
e piscando os olhos.

domingo, 22 de abril de 2012

Andamos de mãos dadas
as if we were the dreamers
só faltava correr por museus.
Senhoras bem arrumadas olhavam
Julgavam os 5 rapazes na noite
Sem guarda-chuva embora caisse uma garoa fina
Desarrumando cabelos e roupas
Que voavam e pareciam diminuir com o mau tempo
Segurando forte o braço um do outro
as mãos, o choque térmico. (sempre há aqueles por onde o sangue corre melhor)
Sou a das mãos frias, mas ninguém se importa, embora eu ache sempre de bom tom avisar antes do toque.
Eu quero um amor de tirar pedaço, um amor de salivar sangue, arranhar as costas, machucar cotovelos. Quero amor de poder, amor de bater portas e sair pela garoa, amor de marcar pra doer (porque está escrito que todo amor tem que ser assim.). Fazer posse, segurar o braço, demarcar com unhas, retirar pedaços. Hematoma azul, amor de acordar na mesma cama com rímel borrado, amor de manchar o batom na fúria, pescoços e costas. De fogo (não só dos cigarros), de cheiros (não só dos perfumes) de troca (de histórias e fluidos), com diálogos saídos de Godard, de costas arqueadas, e mãos atadas (umas nas outras)
Corremos todos sob olhares
garoa fina desmancha disfarça nos faz inalcançáveis
Correndo contra o vento de mãos dadas
As senhoras nos olham, assustadas
Enfant terrible na noite
De meias rasgadas e batom vermelho
Fumando a cartela com dedos longos
Esmalte descascado nas unhas
he says he likes me that way.
Lendo Borges e Hermingway
Eu queria saber falar francês
Tomando conhaque
roubando do teu copo
bebendo da tua boca
De mão em mão

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ele disse em tom de brincadeira. Mesmo sabendo, uma certa angústia me leva à varanda noite após noite na esperança da ordem da descida. A ideia da mudança abrupta e não-pensada, do ato inconsequente, da nova vida, do novo cativeiro. Saio das asas de mãe pra armadilha que ele preparou pra mim. Eram boas as iscas e o jeito de conduzir os fatos. Com determinação, faço as malas. Não é preciso muito: uns poucos papéis e lápis da vida antiga acho que dão conta. Na nova gaiola, ele cuida de mim. É preciso queimar as roupas, o rosto antigo, os velhos hábitos. Nenhum carro é o dele, nenhuma silhueta de homem se assemelha. Mesmo em tom de brincadeira, eu ainda espero que me deem ordens. Não jogarei tranças ou lençóis para a descida mas, orgulhosa, irei ao seu encontro, buscando os grãos que espalhou pra me atrair.
Conheci aquele que fala do silêncio, dos ruídos e do amor.
Há sempre aqueles que têm medo de falar de amor.
Há sempre aqueles que falam e não sentem
Há sempre aqueles que sentem mas se calam.
Conheci um rapaz que ousou falar de amor.
Não com felicidade ou conhecimento
aprendia a amar tanto quanto eu: nas migalhas e nas letras. Ou talvez nas migalhas de letras que andava jogando às páginas para formar alimento concreto. Até hoje só consegui metades. Talvez ele concordasse comigo.
E tínhamos o espaço para contar. Eram os cigarros amanhecidos dos amantes, o café velho cheirando pela casa vazia, os restos que o outro não levou. Nem de mim, nem dele.
Ontem eu fui à rodoviária me despedir de algo que não sei o que mas que se foi, tive a certeza batendo em mim como um murro, latejando na cabeça assim: algo morreu. O relógio da rodoviária, tão perto, tão longe de tudo, marcava 14h e eu só fiquei parada, no meio do trânsito de malas e histórias, sem ter para quem contar a minha. Quis pegar um lenço, sacudir no ar, fazer cena.
Talvez devessemos parar com as bebidas, com os grandes goles sorvidos pra calar a sede de dentro/ de fora. Essa sede de palavras pra sair, de amor pra se contar, de tristeza líquida. Ele concordaria. Talvez devessemos parar com essas conversas sobre o passado, essas questões todas que ninguém se faz. Ele também sabe o quanto pesa a palavra escrita. Não desmancha no ar nem se apaga mas solidifica e atormenta. Talvez devessemos parar com a divagação ébria e apresentar de uma vez por todas nossa melhor cara, respondendo aos preocupados um sereno tá-tudo-bem-cara e continuar sorrindo calmo. Porque parece que não se sabe lidar com o que não se entende, uma cara amassada de noites mal dormidas e amores mal lavados incomoda, antes de preocupar.
Não somos personagens de história alguma
nem esse retrato será feito por ninguém
é que eu e ele somos assim, já velhos.

Conheci um garoto que era como eu
Perguntando ao pó pra obter respostas
e tendo diálogos incríveis comigo, na lacuna do silêncio.

domingo, 15 de abril de 2012

Quando vejo essa modorra das tardes de domingo em S. Paulo, as bicicletas e corpos desnudos cansados do terno e do relógio, palavras como especulação imobiliária nada significam.