terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Amor estava do meu lado criando azul. O amor estava na mesa com conversas sérias e sobretudo preto. O amor fez desejo com meus cílios e se identificava pelo cadeado no pulso. O amor me desencontrava, às vezes, na hora do almoço. E era seguido com olhos ávidos enquanto caminhava. Aprendeu a falar muito, sem nada dizer. O amor foi secreto quando devia e gritou a plenos pulmões quando, então, pôde. O amor me deu o número 10 e se espalhava pelas paredes todos os dias, sem levantar suspeitas. Me apresentou um fabuloso destino, surgiu Florentino Ariza nos tempos do Cólera. O amor me deu apelidos secretos, me mostrou o sol das 17h no alto do primeiro parque. O amor me fez companhia no pôr do sol e no nascer dele. Dividiu camas e memórias. Marcou com sangue o algodão e me fez pactos. O amor recebeu um cadeado sem chave quando nem se sabia amor de vida. E jurou eternidades quando ninguém mais jurava. É Marat, morto na banheira, é Keaton, é Sid, é Nino. O amor me contou dos rios e seus afluentes. É vizinho de sonhos e mortalha. Construiu uma camisa-de-força para dois e escreveu no meu corpo. Ficou marcado como tatuagem. O amor é orquídea que cresce mansinha na sombra mas cresceu e cresce tanto que abri as janelas e as portas. O amor é imenso. Foi como o de Drummond, de Bowie, Chico Buarque, Leonilson. Mas, mais do que tudo, o amor foi meu – com as mãos sujas de tinta e o olhar doce.