quinta-feira, 31 de maio de 2012

Atrasar-me para a vida. "Coitada, perdeu o ponto, saiu sem relógio. A última viagem para a vida deu-se há dezoito anos! Agora a pobre há de andar sem rumo." Mas andar, mesmo que sem rumo, é partir de um ponto a outro. Jorrar toneladas de palavra impensadas nas páginas brancas. Pensar amor, por exemplo, é complicado. Ar-mor, A-mor ( o anti- sentimento.)
O ódio é o amor enfraquecido
O gosto ruim é só um gosto que não é bom o suficiente para agradar a todos os paladares
Um coração em chamas, entretanto, será sempre um coração em chamas.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Uma cartela inteira de Lexotan
Aquela dose prometida de cianureto
um tiro na cabeça, queimar no fogo lento
(Dos nossos cigarros?)
Salto da varanda, morte letárgica, dose do próprio veneno.
Será que existe camisa de força para dois?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Num quarto fechado
deitada de bruços
na cama grande demais pra seu pequeno corpo
Coelho frágil
Seu caçador já vem
Vagaroso
Com seus sapatos pretos
e o cigarro nos dedos.
Não ofereço resistência e coloco o meu melhor vestido mesmo que no fundo saiba que ele acabará no chão.
Não poderia dizer que tudo deu errado para os dois. As palavras escolhidas seriam: Tudo deu incerto para os dois. Pode ser que seja pode ser que fosse pode ser que
O tempo pode ser trocado por tempo.
Equivalências ambivalentes e distantes
Eu gosto desse uso de palavras incólumes difíceis agradáveis ou não tanto
Parece que todo texto se torna especial
de leitura difícil
incompreensível como a própria autora
dirão os especialistas
analisando post mortem.
Porque hoje só quero beber do copo do corpo de alguém sem nenhum pudor. Menino de peito aberto, posso vê-lo fumando. Seu casaco preto úmido não se sabe se de choro ou de chuva. Um hálito, um outro corpo que também tem seus cheiros seus fluidos suas salivas. É essa saliva que surge antes do alimento, preparando o caminho para o deglutir. A seiva, a carne fresca, cordeiro abatido, correndo pra morte. A dentada gulosa do caçador solitário.
Sobretudo preto cruza as pernas e fuma, paciente Ele tem essa calma dos mundos o segurar firme do cigarro nas mãos o olhar sobre esse fruto que caiu.