segunda-feira, 3 de maio de 2010

Hoje, é meu aniversário.

Quando criança, minha ideia de aniversário era uma festa, bexigas coloridas, papéis brilhantes e de cores vivas embrulhando os presentes – secretos. Esperar ansiosa pelo dia, contar nos dedos, fazer planos. Acordar com as mãos de mãe fazendo cócegas e o telefone que já tocava antecipando desejos de feliz aniversário. Refrigerante e um bolo caseiro com velas, familiares, amigos, colegas e até os que nunca trocaram uma palavra comigo. Naquele momento eramos um grupo, reunido em torno de um objetivo: presenciar a felicidade de alguém. Estávamos todos unidos por algo que eu não entendia, numa atmosfera quase mágica e, acima de tudo, feliz. Sempre havia um primo que não aguentava esperar pelos doces e, olhando sempre ao redor, escondia sob os dedos um brigadeiro para depois o comer, sorrateiro.
E eu abria os presentes. Oh! Aquela boneca que eu tanto queria! Um urso de pelúcia! Era brinquedo para brincar por dias, semanas.

Crescer é perder tudo isso. Crescer é não ter mais expectativa. Crescer é.. tornar-se frio?

Onde foram parar as bexigas? Onde foram parar as pessoas?

O telefone não toca mais. Onde estão as mãos quentes que me acordavam pela manhã de meu aniversário com palavras doces e amorosas? Eu sei onde estão. Mas daqui, elas não podem me alcançar. Ou não devem. Eu diria até que não querem. Mas mãe sempre quer. Talvez quem não queira seja eu, então... mas eu também quero. Então por que as mãos não se encontram mais?

Aquele primo da festa está longe, não existe mais. Também não existem os doces que seriam roubados.

Só existe uma saudade. Mas sou adulta! E isso é sinônimo de passar os aniversários sozinha. Só que isso ninguém me avisou. Será que é algo que deveríamos aprender sozinhos? Um ritual de passagem?

As pessoas já não se unem mais para festejar algo maior. O algo maior não tem valor. Não há mais velas ou troca de felicitações. No máximo, um cartão de papelaria com uma frase pronta. Coloque meu nome e mande – pois não tenho tempo a perder.

Relacionamentos poderiam ser sintetizados nisso: Um cartão, frases feitas, silêncios.

Falta tempo?

Um dia sozinha. Mais um?

Monólogo entre quatro paredes. Presentes que compro para mim mesma.

Fazer aniversário não é mais festa. Eu já nasci, já aprendi a andar. Agora podem começar a me esquecer.

Já passei, já passou, já passamos.

Sei que não devo esperar nada. Mas ainda aguardo, ao lado do telefone, uma ligação, um contato, um diálogo, mesmo que por engano. Só para eu dizer e comemorar, com o peito estufado de orgulho: hoje, é meu aniversário.