segunda-feira, 29 de março de 2010

Na fumaça de um incenso.

Acendo um incenso. Ele se queima rápido, mal vejo. Cinzas que me lembram a dos cigarros... ou a dos mortos. Renovação. O ar com um leve cheiro de hortelã. Cantigas ao fundo, num clima quase místico. Seguro- o com as mãos, sacudindo-o no ar. Tanto o ar quanto eu: ambos limpos. Continua queimando rápido. Rezo. Peço todas as coisas, peço paz, peço um dia bom, peço purificação. E recebo. Hoje não quero ser eu. Quero ser uma partícula de poeira, a fumaça do incenso. Acho que até já sou: Sou simples e complexa. Sou nova e milenar. Carrego comigo outras mil de mim. Trago todas as dúvidas e as respostas, todas as razões e os sentidos. Ao mesmo tempo que não trago nada.
Mas não quero saber de complexidades, pelo menos hoje. Hoje quero apenas a fumaça do incenso na casa, enquanto canto, enquanto danço, enquanto peço e, acima de tudo, enquanto agradeço. E respiro na tranquilidade, na solidão que não é ruim. Com os pés descalços, caminho. Solta de tudo que me prende, livre dos grilhões. O incenso está acabando, a fumaça vai rumo à janela, ao céu e segue. É o meu jeito de mandar minha mensagem aos Deuses, assim como faziam as culturas milenares. É o meu jeito de dizer: Estou aqui.