quarta-feira, 22 de junho de 2011

Voilà mon Coeur. Um coração tristinho mas que ainda é capaz de bater. O ofereço de peito aberto. Talvez assim consiga algo que me satisfaça e faça com que o fado me deixe só. Hoje saí pra olhar nos olhos de alguém. Hoje saí pra olhar em meus próprios olhos. Não gosto dessa pausa que se dá na escrita, o fingir ver um horizonte quando na verdade se está a olhar pra dentro, e só pra dentro, de si mesmo afim de remexer lembranças atrás de epifanias. É uma sensação falsa, desconforto latente, demora a ir embora só pra não me lembrar de nada. Há dias em que até o chão parece me inspirar. Simples ruídos de passos, o som do salto alto fazendo um tac tac tac contínuo. Acho que hoje não é um deles.
O garoto ao meu lado no banco estava escrevendo, assim como eu. Com uma olhada furtiva, vi que tinha o triângulo das águas nas mãos. Uma dedicatória que tomava a contra-capa inteira e, se quisesse, o livro todo também. Como que para buscar as palavras dentro, ele olhava fora. Seu olhar ficava perdido, enxergando sem ver. Quase que sabia o que escreveria, em um típico surto de movimentos internos daqueles que ninguém conhece, a não ser outro escritor. Com Caio F. no colo, ele podia tudo. Visão de copos coloridos, brilhando no sol em cacos, papel crepom e cetim. Quem receberá a dedicatória? Por tudo o que podia acontecer, mas não acontece. ...Meus escritos só parecem dedicatórias para a saudade.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Peixinho dourado tenta dialogar mas já não lembra mais de nada. Peixinho dourado se sente desconfortável sem saber o motivo. Quer questionar o mundo mas não sabe o que é interrogação. Pergunta: Quem são vocês todos? Mas desconhece seu próprio corpo. Peixinho dourado desaprendeu a nadar. Mal sabe para quê servem suas brânquias: respira por instinto. Peixinho dourado se sente perdido. E sentir ele ainda consegue, mas sabe que não pode. Questiona e... 3,2,1. Esqueceu!
Arma fuga mas a contagem o engana. Peixinho dourado não sai do começo. Sua memória é seu erro, seus três segundos sem registro. Peixinho dourado deixou-se levar...

domingo, 19 de junho de 2011

Juntos separados somos nada

Que tua boca não me diz nada
Que tua boca sempre foi seca
mas teu corpo nunca me negou
teu corpo nunca negou nada

Pés
na minha direção
Mãos
que teimam em vir
encostar.

Quando eu acordo cedo, já logo abro as janelas
e canto pra que meu canto te embale
e passe o vidro embaçado
e passe o vidro, beijado
com o resto do batom vermelho
que me sobra nos lábios sem beijo.

Eu vou na ponta dos pés pra não fazer barulho
pra preservar a sensação de que no mundo todos dormem
e eu não quero acordá-los.

Em alguma outra cama, sob outros lençóis.
Que mãos te afagam?
Que sonhos tem pra me trazer
desfeitos na claridade?

Mal sabe você
que te desejo boa noite
todos os dias. E imagino que você sussurra meu nome, também.