quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Um molde de gesso no chão. Em cacos. O caos é parte do cosmo também. Agir em branco. Pensar em nada. Investigo o limite, a zona de confronto, os trópicos que cruzam meu corpo. Bato o dedo na quina, ando na ponta dos pés, todo gesto é exagero. Se me desenho ou escrevo é porque eu também sou tecido. Hematomas e ferimentos não são nada mais do que pinturas. Pele-tela, corpo-papel. Meu corpo de mulher no chão. Em cacos. O cosmo é parte do caos também.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Noção de espaço. Distância - Deslocamento. Eu ocupo. Corpo-ferramenta. Corpo-sentido. Percepção. Mexer o osso esquecido, o osso que nem se sabia possuir. Não seguir a linha reta não significa ter vida torta. Paisagem. Passo. Inventar modos de andar, correr sem motivo, parar apenas pra olhar o nada - o tudo - o qualquer. Parar. Seguir. Caminhos diferentes. Fazer do corpo concreto. Vice-versa. Cidade organismo. Meu corpo é feito de ruas e avenidas. Meu corpo é feito de estímulo e passagem, rotina e construção. Sinal fechado. A última consequência é só a primeira. Entrada - saída. Direção, sentido. Estar presente é corpo coração e músculos. Presente de pele, osso e diafragma. Presente com o todo (que é nada). Ou com o nada (que é todo). Há nesse vazio de mim uma certa completude. Vazio-cheio. Ultrapasso a linha. Transbordo. Tudo é ponto e intersecção, tudo é somar ou subtrair. Deslocamento. Unidade de medida pode ser cabelo, unha, respiração. O corpo tem o peso de uma ideia, de uma pluma, um coração.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

As costelas, as costelas, os ossos do quadril. Notar que tenho articulações e músculos e que consigo estalar o pescoço. Reparar que pisco, que minha caixa torácica se move estranha quando respiro. Tenho a mania de andar com as mãos nos bolsos. Se uso uma blusa que não os possui, não sei o que fazer com as mãos. Deixá-las largadas ao lado do corpo não me parece natural. As vezes ando torto, erro o passo. Passei dezenove anos sem sentir a cidade. Nunca abracei uma árvore. Nunca fui de falar com estranhos, dar bom dia, puxar papo. Não me permiti aventuras por ruas que não conheço. Meu trajeto todo é programado. Nenhum passo a mais, nem a menos. Ando sem me perceber corpo. Um automatismo que achava natural. Eu ando porque eu ando. Nenhum músculo, nenhum pé ante pé, nenhum método me vem até a cabeça. Quando foi que eu comecei a andar sem perceber que andava? Quantas pessoas deixei passar sem que desse ao menos um olhar no rosto? Faixa de pedestre, lixo na calçada, olhar pra baixo, olhar pra baixo. Exercício difícil mover a cabeça pra cima. Perto - longe - distante demais. O céu é cinza o céu tem seus próprios trópicos - fios que formam desenhos, bolas de lã, ideias confusas. A textura das paredes das casas, o embaçar dos vidros na chuva, inventar meus métodos de caminhada. Andar na contramão, no contrafluxo, ser apenas do contra. Chorar numa esquina, sentar na escada de uma casa qualquer, parar o próprio tempo pra vê-lo passar nos outros. As vidas que eu podia ter, as vidas que eu queria ter, as vidas. Relatividade. Afeto. Relação. Atividade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A comida que sai da minha boca, forçada, é afeto - a psicóloga me disse. Os dedos na garganta expelem toda a simbologia do alimento: O jantar dos amantes, o leite que jorra do peito da mãe, a comida de vó.
Mastigar, engolir, repelir.
Sem tempo de ser absorvido, jogo-o para fora, em direção ao ralo, culpada e mais leve. Há no ato de comer algo que me dá ânsia. Eu mesma não me acostumei a aceitar carícia - como bicho selvagem. Conto calorias como conto amigos. Me vejo melhor sem nada no estômago.
Talvez porque eu pense que estou desaparecendo.
Estrangeira no corpo, no próprio domínio
Falar sem som, gritar sem palavra
Criaram as cidades para demonstrar o tédio
Não sentir o sangue, o peso
O meu peso eu não sinto.
Insustentável leveza poetizar o mundo.
Modos de pensar são diferentes.
É minha função ser vista. Entrada saída-peso-leveza-direções-extremos.
Meu grito finalmente saiu.

O corpo é usado como ferramenta. Não era eu.
O pano me sufocando o grito o pranto a ajuda mútua
PERFORMANCE é só um instante
Depois se quebra, a vida volta.
Recolher cigarros mentir, agir como quem fui ou queria ser. Vida dupla.
O ato maior pra toda criação é ter fome.
Eu consigo fugir de mim e ser eu mesma de modo mais verdadeiro que o habitual. A investigação dos meus limites, meus compassos, minhas articulações.
Eu sou feita de poros e músculos e atos que nem desconfiava.Meu cheiro e minha memória também ficaram pelas ruas.
Mergulho no abismo de mim mesma, escancaro a peste como se escancara a boca.

Não comer desde as 11 horas. Ainda assim, a dor não incomoda.
RITUAL.
Levar ao extremo atos do cotidiano - Levantar as mãos escolher arroz deixar-se guiar por instinto sentir a textura do mundo.
De mim
Do outro.
Contar a pulsação por uma hora um dia. Uma vida.
Todo ato simples carrega o infinito em si. Todo papel cigarro faixa de pedestre tique nervoso jeito de andar conta algo de alguém.
E meu espelho é a cidade.