quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Uma nova ânsia
Uma velha angústia
O conhecido aperto
Que me toma inteira.

A futura carta
O desconhecido
Um amor novinho
Para lapidar.

Todas as antigas dúvidas
Se juntam com novas
Pra fazerem festa
Dentro do meu peito.

Me deixar sem jeito,
Pronta pra fugir
Falta a coragem
Sobra o sentimento
Vou deixar fluir...
Sou nova e me sinto velha. Tenho tantas dúvidas mas, às vezes, sinto como se eu conhecesse todos os segredos. Mal comecei a viver e me sinto com a idade do universo. E um peso imenso em minhas costas.
Não há um dia em que eu não queira chorar e desistir de tudo. Não há um dia em que eu não lembre de algo ruim. Não há um dia em que eu não deseje ser outra pessoa.

Os olhos que não brilham, os cabelos que não possuem cores de fogo, o corpo comum. Faltam-me características minhas. A mente que não é diferente, os pensamentos que parecem todos iguais, nem os gostos parecem ser meus. A fala que por vezes não sai. E incomoda. Não consigo. Os fios de meu cabelo são castanhos mas não reluzem ao receber a luz do sol. Não possuem aquelas cores bonitas, vivas, sedutoras. Só há uma cor estranha – assim como tudo que eu sou. Meus traços são rudes. Meus olhos há muito perderam o brilho, são tão opacos os pobres olhos que nem me lembro da cor exata que eles tinham – se é que um dia tiveram alguma. Minha pele é seca, falta-me o frescor das moças, a pele rosada. Nem os lábios possuem cor. São tão brancos, os lábios, que pareço uma máscara - não possuo neles o carmim. Só há a pele pálida, as veias azuis – às vezes roxas - que me atravessam inteira, mostrando seus caminhos sob meu corpo como se fossem os meus próprios. Intermináveis linhas azuis, ramificadas, pontas que se perdem e se encontram.

Falta-me o jeito de mulher e ainda procuro o de moça. Estou perdida em algo entre essas duas coisas e não consigo me achar. Como posso, então, desejar algo desse jeito, sem ter nada que atraia a atenção?

Eu passo, não me vê. Eu falo, não me ouve. Eu mudo, continuo a mesma. Eu sumo, sou esquecida.

Para ele eu faço meu melhor sorriso, enquanto por dentro choro. Para ele me mostro feliz, enquanto, por dentro, sangro. Para ele, me mostro otimista enquanto, na verdade, acho tudo uma grande ilusão.

Por todas as falas que não me saíram, por todos os olhares que não consegui projetar, por minha falta de emoção, por todas as perguntas que não fiz e as respostas que não dei, por todos os diálogos que não comecei e os que deixei que terminassem, pelo tempo perdido e mal aproveitado, pela minha falta de jeito e tato, por todos os dias em que não falávamos nada.

E mais do que nunca eu o procuro, procuro, procuro.

Querendo ganhar dele os traços finos, reais e me iluminar da luz vinda do rosto dele e dividir com ele a cor de seus lábios e aprender com ele a ser o próprio sol.

Mas procurei e nunca cheguei a encontrar. Eu tinha o mundo em mim -e me pesava. Eu possuía o amor puro e ele não quis ver. Eu o havia encontrado mas ele me fugiu. Eu olhei direto para o sol e ele me cegou.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Talvez, quem sabe, um dia...

E que quando, talvez, você batesse na minha porta, eu diria algo como
-Você vem para ficar?
Com a mão no peito, como se estivesse a evitar que o coração saltasse para fora ou simplesmente batesse tão forte que simplesmente parasse.
E talvez, se você batesse na minha porta, você iria responder
-Eu venho pra ficar. Eu venho para onde não saí.
E diria que teu lugar é aqui, sempre foi, nunca pensou diferente, só que não podia, não devia... já desistiu de tentar se afastar, já não conseguia lutar contra isso. E seria o momento em que você talvez me guiasse para dentro, beijasse meus cabelos, tocasse meu rosto frio com teus dedos. Talvez ocorresse tudo isso. Nunca soube, já que não passou de talvez. E talvez, nada acontecesse. Nem uma batida na porta, nem uma sombra no corredor, nem um coração inquieto. No fim, você não apareceu. E eu só fiquei com o talvez, quem sabe, um dia...