quinta-feira, 28 de julho de 2011

Se por acaso olhamos para o alto é para os prédios que construímos insistentemente, como se quiséssemos tampar o céu. Edifícios que de nada valem para a construção de caráter. Quem tem o papel de construir pessoas?
Talvez por isso estejamos nessa fábrica maldita de almas

nada mais há pra ser dito ou pensado. Vomitar, saborear, engolir.

É preciso muita coragem pra se apontar uma arma à alguém mas não se pede tanto esforço ao se apertar o gatilho.
Vertigens que sinto, prenúncio da queda. Desejar-lhe boa noite, apertar a própria mão no escuro, abraçar a mim mesma.

Amor é relação de força entre os indivíduos. Sempre fui a fraca, deveria partir, deveria dizer, me limito a ficar.
O que você diz sobre o amor? O que eu mesma sei e professo? Não importa.

Já me perdi na trama, na trilha, no núcleo.

domingo, 24 de julho de 2011

E se não tivesse nome no modo como escrevo o amor? E se não tivesse nome, o poema? Se sentiria menos poema? Teria mais coragem? Seria mais sincero?

Um personagem implícito, arquétipo da tirania metamorfoseada. Atuação de 24 horas.

...E se não tivesse a mudança, ainda assim eu te teria?
Amor de gestos. Preciso ver as lacunas, preciso sentir o impossível. Observar as formas e os contornos. Meu peito é feito de sombra e perspectiva. Nos seus lábios morre sempre um sorriso de permissão. Silenciosamente me fazem promessas de felicidade. Diálogos imperceptíveis aos olhos humanos. Conversas que tecem fios visíveis ao coração nu. Despido de proteção, conceitos, palavras, conteúdos. Coração de forma, de vulto, de silêncio. Ideias são novelos: acha-se a ponta e desembaraça. Pensamento à deriva. A beleza do gesto - rodopios no espaço. Nos seus lábios morrem sempre as palavras, os meus atos, a minha coragem.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Não foram as coincidências, o número 6, Beethoven tocando, Anna Karenina debaixo do braço, o banco da praça. Desde o começo, não foram as coincidências que fizeram o interesse. A tirania tem todo o crédito. A tirania me deu o inviável. A tirania me tirou o que eu ainda tinha. Regime totalitário. Meu próprio Kitsch do coração.

domingo, 10 de julho de 2011

Sonho de galáxias e montes interplanetários. Poeiras nos olhos me fizeram ver o invisível. Nebulosas e buracos negros no lugar de um coração. As linhas da minha mão traçam caminhos. Mentalizar os pés de lótus faz com que eu esqueça de mim, e a viagem se torna mais do que corpórea. Mímese e partido. Estou pronta para des(aparecer). Mapas que dizem dos astros e montes da mão. É assim que eu me encontro.
Erguer as bandeiras, mostrar pra que eu vim. Cartazes e faixas em uma só voz. Interesses defendidos numa luta que não é só minha mas de todos. Non Dvcor Dvco. Nada mais é verdadeiro. Erguei suas bandeiras, levantai a voz, com convicção, sem abaixar a cabeça pra ninguém. Somos jograis, somos todos a cidade que respira. Cidade que me pertence, se modificando ao controle de minhas frases. Eu vou mostrar ao mundo, vou dizer o que quero, falar que sim, que eu posso ser o que quiser. É difícil calar nossas vozes, impossível conter nosso coro. As bandeiras vermelhas se agitam, os punhos já estão erguidos, a marcha está pronta para andar.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ela tinha suas estruturas sólidas, bem definidas. Ele era leve, fluido, inconstante. Tereza desde sempre sentia o peso do mundo. A incomodava sua própria mente questionadora, a mania que tinha de arquitetar planos e falas, de não saber agir naturalmente, de parecer engolir o ar quando precisava de um diálogo com ele - sem achar as palavras e os gestos que se escondiam nela. Tereza queria descobrir o mundo, mas chorava por dias inteiros por saber impossível seus modos de compreendê-lo. Não se acostumava às inconstâncias. Queria pensar simples, não podia. Queria o abstrato, não o alcançava. Era tudo muito definido e imutável, o que a deixava aborrecida. Tinha lapsos constantes onde achava que compreendia o mundo, mesmo sem compreender ela própria. O peso nos seus ombros, entendia bem, só poderia ser retirado por ele.