terça-feira, 27 de agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
A construção dos escritórios de psiquiatras e psicólogos é uma farsa. Os lenços de papel estrategicamente colocados perto da cadeira - para os de choro fácil, balas, música clássica. O incenso que ela acendeu quando entrei era insuportável. Seus móveis perfeitos, seu tapete perfeito, sua prateleira recheada de livros que provavelmente não leu. Fotos da família, canetas diversas, papéis. As orquídeas falsas do vaso balançavam enquanto ela escrevia meu diagnóstico no papel, sem ao menos perceber que eu estava tendo uma crise de ansiedade ali mesmo, atrás dela. Meus olhos varreram a sala em três segundos, minhas mãos queriam quebrar alguma coisa, eu sufocava, esquecendo como se respira, achando-a detestável com seus cabelos e roupa e jóias impecáveis. CID 10 F41.2 - Eis como sou conhecida.
O relógio tem um tique-taque irritante.Não gosto quando olham sempre para as horas. Eu sou o tempo falando na cadeira sobre coisas que ninguém quer ouvir, a não ser que se pague. Ela escreve, escreve, escreve e por um tempo a única coisa que trocamos foi o barulho do lápis percorrendo o papel. Uma parte muito pequena de mim - é isso o que ela sabe. Talvez essa parte pequena seja a única importante. Talvez o correto seria apresentar-me como Isabel: a depressiva, com transtornos alimentares, de ansiedade e de humor.
Eu sou uma grande mentirosa. Na cadeira sorrio, finjo que está tudo bem, maravilhosamente bem, que tenho vontade de voltar a ser eu mesma (mesmo pensando que ser eu mesma significa exatamente o que sou agora. Não é questão de estar.). Não há uma única mancha na parede. Os quadros são sempre iguais nas salas. Natureza morta, paisagens. A única coisa imperfeita ali sou eu. Nada asséptica, com os cabelos sujos e a cara lavada. Ela me analisa dos pés a cabeça procurando mais motivos que confirmem o diagnóstico - Só usa cores sóbrias, o piercing, as meias rasgadas, as mãos ansiosas, o pé não para, cabelo em corte assimétrico provavelmente indica uma tentativa de chamar atenção. Alfinetes, cadeados e imitações de lâminas como pingentes - símbolos. A ausência do pai a faz mais suscetível - trauma, complexo.
A consulta acaba com a receita. Tome isso, aquilo, cuidado com os efeitos colaterais, daqui a um mês você volta. Afirmo com a cabeça, enquanto Brahms toca, as flores falsas ainda balançam e o incenso vagabundo me dá ânsia.
O relógio tem um tique-taque irritante.Não gosto quando olham sempre para as horas. Eu sou o tempo falando na cadeira sobre coisas que ninguém quer ouvir, a não ser que se pague. Ela escreve, escreve, escreve e por um tempo a única coisa que trocamos foi o barulho do lápis percorrendo o papel. Uma parte muito pequena de mim - é isso o que ela sabe. Talvez essa parte pequena seja a única importante. Talvez o correto seria apresentar-me como Isabel: a depressiva, com transtornos alimentares, de ansiedade e de humor.
Eu sou uma grande mentirosa. Na cadeira sorrio, finjo que está tudo bem, maravilhosamente bem, que tenho vontade de voltar a ser eu mesma (mesmo pensando que ser eu mesma significa exatamente o que sou agora. Não é questão de estar.). Não há uma única mancha na parede. Os quadros são sempre iguais nas salas. Natureza morta, paisagens. A única coisa imperfeita ali sou eu. Nada asséptica, com os cabelos sujos e a cara lavada. Ela me analisa dos pés a cabeça procurando mais motivos que confirmem o diagnóstico - Só usa cores sóbrias, o piercing, as meias rasgadas, as mãos ansiosas, o pé não para, cabelo em corte assimétrico provavelmente indica uma tentativa de chamar atenção. Alfinetes, cadeados e imitações de lâminas como pingentes - símbolos. A ausência do pai a faz mais suscetível - trauma, complexo.
A consulta acaba com a receita. Tome isso, aquilo, cuidado com os efeitos colaterais, daqui a um mês você volta. Afirmo com a cabeça, enquanto Brahms toca, as flores falsas ainda balançam e o incenso vagabundo me dá ânsia.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Onde deixei? Onde me deixaram? Não me reconheço em mim. Um, dois, três, quatro. Um risco e um pedaço. O quanto sobrou de mim pra te mostrar? Me espalham por ruas que só passei uma vez.
Minha vida inteira é em cores primárias. As linhas do metrô, as paredes descascadas como as unhas. Respiro no vendaval. Nada sobra. É muito pouco. Ser muito pouco é não ser nada. O vazio me preenche, eu preencho o vazio. Nada existe. Tudo desaparece. Amor é viagem. Viajo porque preciso - mas não sei se volto.
Minha vida inteira é em cores primárias. As linhas do metrô, as paredes descascadas como as unhas. Respiro no vendaval. Nada sobra. É muito pouco. Ser muito pouco é não ser nada. O vazio me preenche, eu preencho o vazio. Nada existe. Tudo desaparece. Amor é viagem. Viajo porque preciso - mas não sei se volto.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
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