terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta"

Essa frase parece realmente feita pra mim. Existe sempre alguma coisa ausente. Existe sempre a falta de algo. Existe sempre. Existe?

Hoje estou mais feliz que ontem. Amanhã provavelmente estarei mais feliz do que hoje.
O tempo não é capaz de apagar as coisas, isso é falso. Mas pelo menos ele... ameniza? Nem sei se ameniza. Ele faz com que as coisas sejam arquivadas, digamos assim. Mas é só acontecer alguma coisa: uma palavra, um gesto, um lugar e lá está a coisa de volta à vida.

Se hoje estou assim, motivos tenho. Se bem que as vezes nem o possuo! E mesmo assim fico triste. E já fico calada, quieta. E já ouço as músicas que guardo pra esses momentos de solidão. Músicas que já decorei de cor e salteado. E os refrões saem da ponta da língua, como hino. E são hinos. São meus hinos de tristeza e solidão.
Se estão nessa seleção, é porque dizem algo que me conforta. Ou que me deixa mais magoada ainda! Mas dizem.

E reflito. Escrevo e apago: uma, duas,cem, mil vezes!

Mas hoje posso dizer que possuo motivos.

Meus motivos muitas vezes são bobos: uma palavra mal interpretada... coisas assim.
É que não me julgo estar pronta para perceber que não controlamos as pessoas. Que simplesmente nossos desejos não se realizam. Não é porque eu desejo que tal pessoa fale isso que ela vá realmente falar... E pessoas nos decepcionam. É a lei, a regra. Pessoas são complexas demais... Não estou pronta pra aprender isso. No meu mundo, no mundo onde para mim tudo é perfeito, as pessoas falam e fazem e olham seguindo o que eu determinei. E elas nunca me decepcionam : simplesmente são perfeitas.

Seria até meio sem graça se as pessoas fossem todas perfeitas, como nos meus sonhos. Eu saberia exatamente o que esperar delas. O fascinante da vida é que não tem script. Improviso total. E é ai que mora o perigo... Essa coisa toda de improviso me assusta... Eu gosto é de pensar, decorar falas, analisar mil vezes antes de fazer qualquer coisa. Improviso não rola. Não levo jeito. Quando preciso, entro em desespero ou escapo.

Mas até que é bom... As coisas mais inesperadas acontecem assim, as maiores alegrias também – junto das maiores tristezas.

Hoje não sou a mesma de ontem. Amanhã provavelmente não serei a mesma de hoje.
Porque acho que mudo demais...

E nessas mutações loucas que sofro, nunca estou completa.

domingo, 20 de setembro de 2009

Eram frases meio tristes, meio dor, meio despedida. Mas também, que ela esperava? Era o risco.

E, sendo de qualquer outra pessoa, essas frases meio tristes, meio dor e meio fim nada significariam. Seriam só mais algumas frases, somadas as tantas outras que já recebera.

Vieram logo da pessoa que ela nunca pensou. Tiro certeiro no peito – sem tempo de reagir. Quando deu por si, fora atingida. Atingida por quem não esperava. Ou esperava?

Ela tinha tudo nas mãos. Por querer mais, foi além. E ultrapassou barreiras. Foi coisa de alguém cansado de fugir de situações assim. Foi coisa de quem quer sentir medo pela primeira vez, o medo por dar errado, o medo por não saber o futuro. Afinal, sempre que estava em situações de perigo, fugia. Não encarava nada, não lutava pelo que queria. Cansou-se.

Foi, pela primeira vez, em frente e sentiu-se completamente limpa, completamente em paz, completamente ela mesma.

Sabia que podia perder tudo. Mas se desse certo, ganharia muito mais. A recompensa valia o risco. A recompensa valia tudo o que ela tinha. A recompensa era a única coisa que ela tinha. A única coisa onde ela se segurava para não cair.

Não deu certo. As palavras vieram certeiras, de encontro ao ponto onde iria doer mais: na alma. Palavras de desconhecido, um adeus dito assim sem mais nem menos. Interpretações erradas.

Não sabia mais nada. Voltou a sentir-se só. Lata jogada no chão da rua, coisa que passa e ninguém olha.

Outras frases deram lugar àquelas, dias depois. Eram frases meio de perdão, meio de amizade, meio de um recomeço. E ela as aceitou. Precisava dessas frases meio mistas de tudo o que ela sempre quis.

Viveu completa assim, então, com suas frases meio amizade, meio novo início, meio ventura, meio eu-estou-aqui, meio não-te-abandonarei, meio te-quero e inteiras eu-te-amo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Cafés e Sábados de Manhã

Hoje te liguei, não sei como. Ouvi sua voz, que vinha de tão longe, mas parecia estar aqui, do meu lado, falando baixinho só pra eu ouvir...

Sei lá, estava precisando falar com alguém. Essa solidão anda me devorando por inteira, você sabe.
Não. Não. Você não sabe.

Você não sabe que passo dias assim, sozinha. Acordo e permaneço o dia inteiro sentada. O jornal sobre a mesa e do lado, a xícara de café que eu faço, mas o deixo ali em repouso, ambos intactos. O cheiro de café invade a casa inteira, nas manhãs de sábado. Não demora muito para ele esfriar. A fumaça que saía da xícara já não sai mais. Então acendo um cigarro e fico olhando pela janela, pensando que veria você, como nos dias que saía para o trabalho, depois de ter tomado o café. Ainda não perdi essa mania, talvez porque eu ainda espere que um dia você passe pela mesma janela, dessa vez não para sair, mas para voltar pra mim.
E eu correria para a porta, de braços abertos – pois sempre fui assim tola e dessas que perdoam qualquer coisa.
E, se naquele sábado você foi embora e não voltou, nesse - você estaria de volta. Viria ao encontro dos meus braços. Com promessas de não sair deles nunca mais. Iria me beijar como louco, beijos de saudade, de dor. E eu apertaria suas mãos com força. Naquele sábado as apertei numa esperança vã de que você ficasse. Nesse, apertaria com a certeza de que não as soltaria nunca mais.

Hoje te liguei. Sem esperanças, sem desejos, sem nada. Minto, eu tinha algo sim. Tinha a vontade de falar com alguém. Mas não podia ser qualquer um. Na verdade, disquei seu número sem perceber. Deveria ter desligado assim que você disse “Alô?” e percebi que era sua voz – que permaneceu intacta mesmo depois desses dois anos. Mas não consegui. “Alô? Quem fala?” você repetia, com seu tom de voz que normalmente indicava que estava nervoso.

-Sou eu. A Lô... - e ouve aquele silêncio. -Olha, na verdade nem sei porque liguei, foi meio automático, sabe, fui discar um número e quando dei por mim, percebi que havia discado o seu... olha, não vou mais tomar teu tempo que deve ter coisas mais importantes a fazer... então...
-Não, Lô, sabe que eu estava realmente pensando em você esses dias? É que... ah, nada. Mas conta, como vão as coisas ai?
-Normais, tudo bem, eu acho.
-Ah, sei....

E um daqueles silêncios. Queria falar mas não sabia. Aliás, o que diria? “Olha, eu ainda te amo, olha, eu nunca te esqueci. Eu perdoo, também errei. Vamos recomeçar, sim? Pois eu não aguento mais isso. Dois anos de tristeza, dois anos... dois anos...”

-Eu estou atrapalhando, né? Acho que é melhor desligar...
-Não, Lô, não. Eu não estava fazendo nada. Ia ler meu jornal, mas isso pode ficar pra mais tarde.
E de súbito olhei aquele jornal na mesa. O jornal que ele folheava com todo o cuidado e que - era sempre assim - depois de ler, o deixava em cima da mesa e vinha me dar um beijo, nas manhãs de sábado.
-Hm, entendo. E como você está?
-Vou indo, sabe, me envolvi com uma pessoa... ela é uma boa pessoa, a conheci no trabalho. Até que estamos bem. E você, não conheceu ninguém?
-Conheci algumas pessoas... nada demais...
-Tá ouvindo música, é? Essa aí, não é aquela que tocou quando a gente se conheceu?
-Ah, é essa sim. Tinha colocado o disco pra ouvir, assim que acordei. Acho que foi por isso que disquei seu número... deve ser por causa da música. Tinha até me esquecido.
-É bom né.
-O que?
-Sei lá. Lembrar do passado, assim. É como se estivéssemos vivendo tudo aquilo de novo. Sentindo as mesmas coisas. É bom as vezes, lembrar das coisas...
-É, eu acho que sim...

e outro silêncio. Acendi um cigarro, enquanto passava os olhos pela casa. Precisava lembrar de cuidar das rosas...

-Lô? Ainda está ai?
-Sim, estou ouvindo...
-Ah...
-Sinto sua falta aqui...
-Oi? Lô, o que você disse?
-Nada, nada importante. Era só uma coisa que eu pensei agora mas não tem importância...
-Ah sim. Olha Lô, preciso desligar. Você entende, né? Olha, liga mais vezes, sim? A gente conversa mais...

Mesmo sabendo que não tínhamos nada pra conversar.

-É que eu queria falar...
-O quê?
-Hum, deixa pra lá. Desculpa ligar assim, tá. Vai lá, não vou mais atrapalhar, eu juro.
-Lô, aconteceu alguma coisa? Sua voz tá estranha. Eu te conheço, Lô, fala logo.
-Nada, eu juro, tá tudo normal aqui. É que Sábados me deixam meio assim mesmo... - e ele tinha entendido. Sábados. Os dias mais tristes. Ainda mais nas manhãs. Quando eu acordava sem a companhia dele. E preparava cafés para ninguém. E deixava o jornal na mesa, para o vazio.

Deu uma respirada, profunda, melancólica. E eu apagava o cigarro.

-Bom, fique bem, tá Lô... Se cuida.
-Você também...Tchau.

Desligou o telefone primeiro. Fiquei ainda um tempo com o telefone em mãos, até ter a coragem para colocá-lo no gancho. O sol lá fora estava alto, intenso. Decidi fazer outro café, enquanto acendia um novo cigarro, naquela manhã de sábado.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"Não Solta da minha mão..."

Como se atravessa um abismo? Sem forças, sem vontade, sem nada?

Essa é a típica coisa que não se confirma nunca: que suas forças acabaram. Que, na verdade, você não tem mais nada. Mesmo sabendo que é verdade: sempre foge.

Ela pregou na parede um retrato seu e guardou com carinho as suas cartas. Era inocente, coitada. Se aproveitavam dela... Mas era de um coração puro e bom. Quando amava, se entregava completamente e se aproveitavam disso para tirar todas suas forças e deixá-la aos pedaços.

Ela não se queixava, ia se queixar pra quem? Sempre foi sozinha.

Nesses dias, sem os seus pedaços do coração, queria mesmo era poder voar e gritar lá do alto. Voando, pensava ela, seus pedaços iam se regenerar.

E tirava o retrato da parede mas colocava de volta minutos depois.

Criava recordações que não existiam e sonhava. Mas sonhava tão frequentemente com as mesmas coisas que começou a achar que seus sonhos eram reais.

Eram coloridos, incandescentes, em neon. Explosão de cores que ela nem conhecia – mas estavam todas lá.

Procurou abrigo neles, então. Nos braços das pessoas sem rosto que estavam com ela todas as noites. Sem face, sem corpo. Eram simplesmente massa, uma forma, mas tinham braços. E os braços eram quentes e bons, braços de alguém que ela nunca teve ou que teve e a abandonou.

Era até melhor que não tivessem um rosto ou que não falassem nada. Assim, poderia imaginar livremente e nunca se decepcionaria. Não ouviria palavras falsas, promessas que seriam quebradas. Bastava os braços ao seu redor, bastava o calor que eles tinham, bastava saber que tinha alguém ali com ela. Bastava.

E acreditava tanto nos seus vultos que começou a vê-los não somente em sonhos. Andando nas ruas, os via no meio das outras pessoas, parados, massa cinzenta e disforme – com os braços que ela reconhecia dos sonhos.

Viu aquele que vinha toda noite, aquele que a abraçava sempre e que não a largava. Para ela, aquele era o mais querido. Como sabia que era ele? Simplesmente sentiu. Mas o vulto querido não a quis abraçar e fugiu. Ela foi atrás, correu, sem ar. Chegou ao topo de um prédio. Sol forte, lá embaixo: o movimento incessante de todo o tipo de pessoas e carros e cores. Viu o vulto ali, estendendo os braços, a esperando para o abraço. Foi até a beira. Mais um passo e cairia. Olhou pra baixo, a cidade toda se movia como numa dança, num movimento eterno. Entendeu que era a sua chance de voar. De recuperar seus pedaços de coração perdidos.

“Não solta da minha mão...”

Sentia o calor do vulto a envolvendo. E de repente, seus pés não mais tocavam o chão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Interprete como quiser. Se não quiser entender também sinta-se a vontade. Não vou forçar você a nada, como sempre fiz.

Eu só sei que me sinto horrível. Me sinto horrível quando me amam. Pelo simples fato de que não posso amá-los de volta. Duas pessoas cabem no mesmo coração?

Me sinto péssima porque eu sei como é, eu sinto o que sentem. Mas gostaria de vê-los felizes.. Porque sei que se estão tristes, é por minha causa.

E sei que param de ouvir as músicas e normalmente param de falar comigo, param de me mandar recados... E eu sinto falta... mas não posso querer tudo. Afinal, a grande causadora das dores sou eu. É natural eles não quererem mais ver a razão do problema, a culpada. Alguns consigo manter a amizade – claro que com algumas mudanças. Com alguns, nunca mais falei. E sinto falta.

Não que eu seja irresistível ou muito bonita ou que tenha alguma coisa de especial. Na verdade, sou até meio sem graça... Eu mesma não vejo atributos assim tão especiais em mim. Posso parecer algo. Parecer inteligente, parecer interessante, parecer diferente. Mas na verdade sou tão normal..até meio previsível- ou completamente previsível? Eu gosto do que os outros gostam, sonho com o que os outros sonham, quero o que os outros querem. Quando amo, amo como todos os outros, fico triste como todos os outros... Nada de diferente.

E eu bem que queria ser capaz de impedir que gostassem de mim. Pelo menos até que eu seja capaz de arrancar o outro do peito, pra que eu possa – finalmente – aceitar uma outra pessoa.

Porque eu quero que alguém ouça as músicas que tantos proibiram, que me escreva versos felizes – e não tristes e que quando disser “Eu te amo”eu possa dizer com sinceridade “Eu também”

E ter um amor que seja igual ao de todo mundo: cheio de palavras carinhosas, apelidos bobos e cartinhas. Mas que será também diferente dos demais porque,dessa vez, ele vai ser meu também.