domingo, 27 de fevereiro de 2011

Não sei por que fui falar logo tua música. A primeira. Não sei, ele me perguntou uma música que havia me marcado e eu já estava decidida a não mentir. Ele me perguntou e foi a única que consegui lembrar. Na verdade, eu lembrava de várias, mas essa era a que eu queria falar. Essa foi a que me despertou pras outras, então não teria sentido falar das outras sem a que deu início. Eu já estava certa de que falaria mas nada aconteceria. Falei. Eu sei porque foi logo tua música.
Depois quando fui assistir às minhas verdades, enquanto todos chegavam, enquanto todos bebiam e falavam, enquanto tudo isso acontecia e girava e girava lá estava eu sentada, com a bolsa no colo como fico quando não me sinto confortável. E uma bagunça de notas me fez prestar atenção ao som, a desligar vozes e só prestar atenção na música. Uma troca de olhares com ele já confirmava o que antes era suspeita. A bagunça logo despertou em mim a certeza da tua música na sala. E ninguém entendia, era esse o propósito, ninguém sabia de quem tinha vindo, pode ser ao acaso, como pode não ser e continuaram na mesma, bebendo e bebendo e falando. E ninguém sabia de onde vinha a história, de onde vinha a música. Só eu e ele, o ouvinte. Só eu e ele, o que arquitetou e planejou tudo aquilo, o que se divertia com meus olhares ouvindo a música do outro, enquanto eu segurava o choro, as pernas inquietas e as unhas que machucam os joelhos e os braços de propósito, pra ver se a dor de fora consegue ser pior do que a de dentro. Por exatos 2 minutos e 55 segundos, o mundo compartilhou da minha história. Mesmo que esse mundo se resuma a um punhado de pessoas bebendo e falando sem se importar se a música era tua, ou não.
Recordar é morrer lentamente do próprio veneno. Destruir células e funções. Esquecer do vivendo pra viver do vivido. Faz sentido?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Me prometeram a loucura antes dos 20. Eu só posso é esperar.
Quem sabe já não esteja acontecendo
e, então, enfim poderei me dar um título
real e respeitado, temido
como sempre quis.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Divagações (não tão) tolas sobre arte.

Arte hoje não é uma coisa que deve ser destruída para um recomeço. Todos são artistas, é uma coisa inata ao ser humano: a arte. Só nos esquecemos de deixar isso fluir, de treinar, e a capacidade acaba perdida no tempo, criando o pensamento tão em voga hoje de que artista e arte são coisas sublimes, em patamares superiores e que não são para qualquer um. Arte tem a ideia de complexidade, de intelectualidade e não é. Arte é das massas, qualquer um pode entendê-la.
O que penso é que damos muito valor às obras-primas, taxando-as de difíceis e inacessíveis. Achamos que tais obras não nos servem. Ao contrário: servem e muito, só precisamos aprender como enxergá-las. Não podemos visualizá-las como obras pertencentes ao passado e só, sem uso para o hoje. Devemos, ao contrário, ser capazes de transportar esta arte para o que vivemos. Treinar a habilidade de levar o conceito da arte para a pós-modernidade.

Ao ouvirmos o mito de Édipo, por exemplo, podemos pensar que é algo inútil, velho e desgastado pelo tempo – sem perceber que ele continua atualíssimo, basta que o transportemos para o atual. Basta que mudemos palavras, tempos, pessoas, culturas, hábitos. A essência, essa, continua intacta. A humanidade anda em círculos. O que muda são os gestos, o tempo. A ideia é sempre original. Se soubermos como levá-la para o cotidiano, para o que nos cerca, toda arte é do presente. O problema é que isso não nos ensinam. Não nos ensinam a ver a raíz, só enxergamos o topo, o supérfluo, só conseguimos sentir o cheiro de antigo, as palavras arcaicas.

Os problemas continuam sempre os mesmos, os amores, as dores. É nosso dever restaurar, ensinar, aplicar diariamente essa habilidade esquecida de transpor barreiras para que a arte continue sendo arte – para que, mesmo antiga, a arte continue nos fazendo sentir e – principalmente – pensar.

Precisamos parar com a noção que nos implantaram de que arte é para poucos, arte é para burguês, elitizados. O que podemos e devemos fazer é transportar a arte e modificá-la para uma fácil compreensão nossa, sem retirar-lhe o sentido, o núcleo.

A morte de qualquer arte se dá quando separam(os?) o artista do público. Quando o público se torna passivo, a arte tem seu fim - ela se isola para poucos, perde uma de suas funções: a de acordar e atingir o maior número de pessoas possível.

O que podemos inferir se formos passivos continuamente? O que podemos pensar ou deduzir se recebemos a explicação do criador, mastigada, entregue diretamente em nossas mãos, e esquecemos de criar a nossa própria explicação? Quando recebemos a opinião do criador, esquecemos da nossa, por achar que qualquer coisa que fuja do que ele pensou está errada, e tomamos como verdades absolutas o que nos é mostrado. Sendo que arte está longe de ser uma coisa de opinião única, uma arte de uma mão só, uma ida, um caminho. Arte é ramificada, obras de arte são veias que podem se encontrar ou não – e quanto mais se distanciam umas das outras, tanto melhor! Nos faz pensar, nos faz acreditar – finalmente- que não há uma só verdade. Por isso digo que devemos procurar sempre uma segunda, uma terceira, uma quarta opinião para que só assim possamos refletir realmente e tomarmos para nós mesmos o que achamos. Precisamos ser um pouco mais empiristas, lembrando sempre de jogar a própria opinião no meio de todo esse conjunto.

Parar de mimetismo – esconderijo, camuflagem – e tomar partido.
Paixão é narcisismo
olhar só pra si.
Ou só pro outro?
Não me fale de Aristófanes
de seus mitos
que eu já busquei
e busco mesmo achado
que só você me faz um.
E mesmo assim ando ao meio.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meus olhos, meus olhos ainda esperam algo da vida.
Esperam a vida.
Ainda tenho olhos para esperar algo.
A vida?
Não sei.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pensamentos são ideias mal feitas. Lucidez embriaga. Comprimidos na cartela. Ela inteira e o sono.

Se eu falo, vira concreto
Se eu falo, sai do ilusório e toma marcha. Quase acontece. Ilusão é vontade. Nunca me prendeu.

Eu vou. Pensei nisso e falei alto: engrenagens. Tomou rumo e saiu, aconteceu.

Palavras não voltam quando ditas. Sentimentos. Sem batimentos, sem amor. Mais vale um cigarro ou papel. Carícias de mãe.

Uma coisa pequena. Sem nome.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Agora eu lembro.

Nos meus dias ao lado dele, eu ficava pensando coisas como fica perto de mim, fica perto de mim porque não há ninguém aqui. Não há ninguém se não nós dois e só, nós dois e a distância que é curta mas parece de quilômetros, são só dois passos. Vem. Fica perto de mim porque eu preciso, porque eu me alimento de você.

Mas eu mal olho nos teus olhos. Algumas pessoas no meio da gente. Às vezes, nem isso. Às vezes a distância é só das palavras mesmo, do olhar. Porque gente mesmo, não tem. Às vezes é você perto, mas não perto o bastante, não perto do jeito que eu queria. E ficamos os dois a olharmos assim, sorrateiros, crianças. Jogo interminável. Você me olha, eu te olho, desviamos quando os olhares se encontram e começamos de novo e de novo e de novo. Ou eu só fico olhando o chão, o lá fora no movimento enquanto dentro continuamos sem nos mover... ou movendo-nos com os olhos ( o que não é movimento, no final. Movimentos internos não são visíveis e o invisivel não é palpável, não é evidente). E enquanto eu olho no lá fora ou no chão, você me olha impenetrável e inabalável. E me olha como se eu fosse o movimento, como se eu fosse a origem das coisas, a partida e chegada de cada uma delas. Algumas palavras soltas para quebrar o silêncio. Algumas respostas. E sempre sorrisos, sempre sorrisos que ocultam coisas e aquele um segundo de olhares meus dentro de olhares teus e aquele um segundo em que uma coisa me percorre e, talvez, percorra você também. Um segundo. E o silêncio. Não é ruim, o silêncio. Não. Eu fico mais atenta aos outros sentidos, aos outros comandos. Se pudesse, ou se tentasse muito, seria capaz de ouvir até tua respiração.

A distância sempre existe... e me corrói. Dois passos de distância, dois. Anda, anda... e eu também tento. Mas meus passos são miúdos e medrosos, de quem está aprendendo a andar, sabe? Avanço lenta e sempre sem te encarar, avanço com medo de qualquer coisa, da rejeição de teu calor, talvez. Mas você sempre permanece parado.

Depois, depois, quando você enfim fica ao meu lado que eu quase posso sentir e enfim posso te tocar eu penso te amo.
Mas isso eu penso desde o momento em que te vejo, até... até... mas não tem fim. Sem te ver, te penso.
Eu penso forte assim forte coisas como talvez se eu encostar meus dedos nos dele assim como acidente... talvez.. eu te amo, eu te amo eu acho que, pare de me olhar assim que eu tenho medo mas eu te amo e...

Então vou faceira, cuidadosa, analítica, minhas mãos no serviço atrapalhado e sem jeito rumo às suas. Te encosto sem olhar nos olhos, encosto em você por segundos e volto, tão de leve que mal sei se você sentiu. Às vezes é você quem vem. Sempre mais rápido e corajoso. Nem precisa de muito esforço ou cuidado, sabendo que somos pessoas. E isso basta.

Nessas horas, quando a distância já quase não existe, eu penso: eu te amo. Penso olhando nos teus olhos, enquanto falamos sobre qualquer outra coisa ou mesmo quando estamos no silêncio-que-não-é-ruim. Eu penso forte, decidida, inflexível. Eu te amo te amo eu te amo te eu amo eu.
Quero que você saiba que chorei
Madrugada adentro
madrugada afora
ao avesso.
Olhos inchados já são característicos
nasceram comigo
quiçá.
Manchas vermelhas pontinhos pequenos
que marcam meu rosto de tanto chorar.
Ando chorando todos os dias
com hora marcada.
Ando chorando pra ver se fico
de alma cara lavada.
E não vejo diferença.
Ando chorando pra ter sono
pra dormir de exaustão
Sem sonho algum.
Ando chorando com hora marcada.
Engraçado, sempre é hora de madrugada.
Ando chorando sempre que fico só.
E não tenho companhia para 24 horas.
Que eu receba uma notícia dele qualquer coisa dele só pra eu lembrar
parece dar tudo errado
e o tempo o destino o fado que nos quer separar
Tudo que não coincide
coisas que teimam em não cruzar
e não depende mais só de mim pra fazer tudo voltar
Os planos andam brincando comigo
e nada parece ajudar...
É sempre coisa no caminho
empecilho
e não dá pra tirar.
Você tenta você tenta eu também.
Ao pensar nas possibilidades
entro em desespero
arranco cabelo
esperneio
porque nada parece certo
Que rumor estranho e incerto
que humor que acaba comigo e dilacera
parece que te tive junto em outra era
e agora nunca mais as coisas voltam,
pois parecem outras
distantes
a dor de amor dor de amante
num mundo onde tudo é desigual injusto.
Vejo muros vejo muros sem passagem
quando foi a última vez
da viagem?
Quando foi a última vez que lembrei de mim?
Quero as horas quero a quase tarde quero o meio
o dia
quero coisa que nenhuma outra teria
se não fosse assim de se jogar
em qualquer coisa.
Mas já não vejo alegrias
separação coisa perdida.
Do que chamo essa coisa quebrada?
Só convém chamar de vida.
É assim que sinto
e eu só sei sentir
Quando estiver sozinho, escute. Ouça a voz que te canta. Sou eu. Você imagina que sim. Você sabe que sim. Eu sei que você sabe. Que você sempre soube. Agora é a última tentativa. Pelo menos, a última de uma forma direta.
Quando puder, escute. Nem que seja só um pouquinho, mas precisará de silêncio. É necessário para que se sinta, se quiser sentir e para que se entenda, se quiser me entender. Coloque a música baixinho, tome um café ou não faça nada. Enquanto ouve, feche os olhos, lembre de mim. Lembre de mim de um jeito bonito, pelo menos nessa hora, por favor. A voz que você ouve é minha. É tudo o que eu queria te dizer ou te cantar, mas não consigo.
Faça dessa a minha música, se pra você já não existem outras. Mas faça dessa a música que, onde quer que ouça, você evocará uma lembrança só nossa. Qualquer lembrança. Você lembrará do meu rosto ou de qualquer outra coisa minha. E só minha. É importante.
Eu sei que você consegue. Então imagine que, no momento em que estiver ouvindo, eu estarei na tua frente, te olhando com meus olhos de sempre, do meu jeito desesperado. Te cantando essa música com a voz que eu nunca soube que possuía, até que você me mostrou. Com a coragem que só tenho contigo. E a voz vai começando baixinha, quase com medo, mas aumenta e fica forte, e é impossível calá-la agora, ela continua forte cantando essa música. E eu estou na sua frente sem estar, você vê? Eu estou na tua frente, como sempre estive. Estou ao teu lado, te olhando espiã, te seguindo. Pra sempre. E o pra sempre é o pra sempre do tempo da canção.
Estou te cobrando respostas. Estou te cobrando, sim - Ou não. Deveria e faço sem certeza ; Certeza de muitas coisas eu nunca tive. Tudo às cegas ou talvez tudo claro demais para que eu consiga pensar. Mas te cobro respostas para as perguntas que te faço por outros meios ; Te cobro respostas aos meus textos ; Te cobro só um sim ou não ; Só um sim.
Continuo sempre
continuo porque a cabeça não para nunca
nem isso que chamo, erroneamente, de coração.
Continuo com meus versos
minhas frases desconexas
que fazem um sentido absurdo pra mim
e que levantam suspeitas em você
ou nem isso.
Continuo sem respostas
nem o ponto final
pode ver que mal o uso
pois não sei onde fica
o fim disso.

Por enquanto as coisas me levam
por enquanto só tem vírgula
porque cobro, ou melhor, exijo palavras
respostas
concretas
e não as tenho.

Você finge não saber ou tem medo do real?

Minhas palavras são vírgulas sem ponto final.
Coloquei um papel ao seu lado. Tímido, dobrado... escrito quase que sem querer
Coloquei um papel e fugi coloquei um papel e parti
coloquei um papel de adeus.

Um adeus típico de quem nunca disse adeus
um adeus de quem não sabe dizer adeus
de quem não sabe dizer.

“Esquecendo você – Tom Jobim.”
Quando posso descansar e não descanso por não ter.
Quando posso te falar e não sei
quando posso te olhar e não sei
E assim as coisas acabam
e recomeçam
e acabam
comigo junto
sem recomeço
Sem olhar
sem fala
sem nada
de nada
coisa entalada
nó de gravata
cadê que sai?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

No último segundo do último encontro do último amor, entregou-lhe um papel. Pensou em cantar mas não achou voz onde sempre achava. Não havia o estímulo. Era cantar com medo e a voz mal saía. Queria cantar porque sabia que em algum lugar ela tinha a força. Mas onde? Não encontrou a voz no tempo certo e não havia nada que a encorajasse a cantar.

E como não achasse voz para nada, simplesmente mandou que escutasse a música assim que chegasse em casa, em um tom que nunca havia usado e soou estranho em seus ouvidos: o de mandar.

É preciso, é preciso que você escute, não diga nada agora, só me deixe falar. É preciso que você escute e entenda bem algo que acho que você sempre entendeu mas não sei se do meu jeito, do jeito que eu esperava ou imaginava. Escute na solidão e ouça a voz como se minha fosse – no fundo é e você saberá. Eu já não acho palavras e tomo as de outros, eu já não sei o que falo pra você mas sobre isso você estava certo. Você sempre esteve certo. Você sempre vai estar certo. É você, sempre.

Papel rasgado, retirado do que lhe era cotidiano. Letras garrafais em azul pediam: Onde você estiver não se esqueça de mim.

Ele ouviu?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Procuro alguém pra me ajudar. Alguém que me escute sem julgamentos. Alguém que ouça do amor com paciência. Procuro alguém que me mostre os caminhos, trace novas rotas e planos que eu, fiel, seguirei só para tê-lo. Procuro. Procuro alguém que ouça sobre ele com demasiada atenção e que não se importe se, de repente, eu chorar por horas ou dias – mas seria melhor dizer noites- e depois durma, sem vontade de nada, vencida pelo cansaço. Procuro alguém que me mostre o verdadeiro tempo, que me encare de frente e me dê a esperança pra continuar amando-o, mesmo quando tudo parece me levar para a separação.

Mas já estão todos cansados, já estão todos de olhos fechados.