sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sorrir enquanto por dentro chora. Mostrar-se feliz enquanto, por dentro, sangra.

E sangra muito. O machucado é profundo. E o pior de tudo: não para. Alguém me dê a cura, por favor! - eu suplico. Mas sei que não há cura alguma. Na verdade, não há nada além disso: dor. Em mim e em todos à minha volta. Dor.

Uma hora você se acostuma – dizem. Mas não consigo me acostumar. Parece ficar mais intensa, a faca no peito não sai. Era pra sair?

Ninguém consegue arrancar o que me machuca, ninguém consegue completar o que me falta. Sem querer me dei conta. Eu tenho tantos ao meu redor e na verdade sou a mais solitária dos seres.

Porque todas as conversas não são o bastante. Eu quero mais. Eu preciso de mais – me dê para que eu possa beber dessa fonte e ser feliz. Mas você não me dá, nem dará.

Por motivos dos quais desconheço ou não aceito. Por um objetivo ao qual nem você acredita mais. A moral já se perdeu por entre os tempos - assim como eu.

O vazio. O vazio. Eu tento identificar onde e como ele começou, não consigo. Eu-era-tão-feliz-tinha-tudo-e-não-sabia-agora-só-me-resta-essa-solidão-horrenda.

Não há mais raízes, não há mais espaço, não há mais nem razão. Só que continua doendo.

Eu volto, eu voltarei, eu gostaria de voltar. Já não posso. Desconheço outra de mim que não essa de agora. Já tive outra face? Já tive um dia um sorriso? A boca sempre fechada, os dentes unidos – inseparáveis. Se quiser, poderei separá-los? Mas eu sei que não quero.

Já se passaram tantos anos... perdi a vontade de ser boa, perdi a vontade de...só ser.

Ser algo me desgasta. Ser algo necessita esforços. Ser me dói... nos dói.

Me ensinaram a pensar tantas coisas, a imaginar tantas coisas... mas não me ensinaram isso, ninguém se propôs a explicar. Olha, porque para ser, você precisa de... - Mas não sabem o que vem depois das reticências. Ser são reticências, penso. Mas não faz sentido e nesse momento é tudo o que preciso: algum sentido.

Mas ninguém me explicou, nem você. E eu não consigo aprender sozinha. Eu não consigo mais nada. Falta-me força, falta-me coragem, falta-me alguma coisa que se perdeu a tanto tempo... Falta-me algo que nunca encontrei, algo sem forma, sem cheiro, sem cor. Eu procurei tanto, tanto... Em todas as esquinas, as ruas, os rostos, as luzes. Nunca achei e essa ausência me mata – todos os dias, de pouquinho em pouquinho... Mas não morro. Quanto tempo tenho até desaparecer para sempre? Das memórias dele, dos diários, das recordações alheias, de mim?