quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

De nada adianta escrever poesias. De nada adianta sentar-se à maquina.
Não posso me perder. Não posso deixar de escrever. Um exercício de sanidade
Estou sã ainda.
As terminologias
As homeopatias
As profilaxias
nada adianta.
Deixo registrada minha falta.
Eis que tenho falta de vontade.
Insatisfação aguda
O levantar da cama me demanda um grande esforço
O piscar os olhos
O abrir de boca
a fala.
A língua hesita
A boca seca
Eis algo na garganta que não sai
É o fracasso.
Toda menina esconde os machucados que faz enquanto está sozinha
Os remédios que toma escondido da mãe
as insônias
o choro desmedido
o corte que fez sem querer
Por trás de band-aids e meios sorrisos.
Uma cicatriz é só marca na pele pra quem vê de fora
Não há histórico de fracasso e melancolia
nem noites mal dormidas
nem queimaduras de cigarro
ou cortes com uma lâmina qualquer que não tem outro fim se não a morte.
Vita detestabilis.
Só o que sobra de quem se atira pela janela é o balançar das cortinas.
Minhas células gritam um nome
como sirene a chamar os navios
Só me esqueço de que eles todos jazem queimados
em algum porto.
Não sou bicho de fácil convívio.
Aqueles a quem amei, me foram tomados.
Por circunstâncias ou por pernas melhores.
Minha vida toda fui ensinada a ser sozinha.
Brincar comigo mesma, sem primos da mesma idade.
Pedir conselhos aos livros
e aos poetas,
Essa gente mentirosa, antropofágica
que me ensinaram sonetos e versos alexandrinos mas não as mazelas da vida.
Cresci, me achando filha de carbono e amoníaco
pensando que tudo que amei, amei só.
Depois da poesia, nada veio.
Não é com palavras que se salva alguém de se jogar de um edifício.
Não é com um terceto que se impede alguém de se atirar ao fogo.
O que cada um quer é ser consumido
lenta,
gradualmente.
O que cada um quer é ser pessoa
e não poeta.
Eu só aprendi a ser um.
E terminar rimando.
Ainda existem remédios pela casa pra fazer qualquer pessoa dormir por meses.
Dessa vez eu acredito que não vá ter erro.
Sem remédios de estômago
Sem remédio de dor de cabeça
Nada dessas coisas triviais que não surtem efeitos.
Estou acostumada.
Escolher os remédios mais fortes
com substâncias que brigam entre si
uma guerra nuclear dentro de mim
uma explosão atômica
A verdadeira guerra do Iraque
no meu corpo.
Em um momento
você está bem
eufórico
radiante
Presságio da queda
que vem.
Eu vivo.
Tristeza é escolha
eu escolhi continuar triste.
Acordar cedo
fingir ter vida saudável
encher o rosto de maquiagem
aparentar ter cor
pentear o cabelo
tudo isso
mostrar uma força invisível
ascendente
mesmo em ruínas.
A boca seca (de beijos)
o corpo pesado (de cansaço)
os olhos moles (do choro)
A perna fraca (de amores)
O braço pedindo (um abraço)
O estômago dói (das mais diversas dores).
Ontem uma estranha carga de energia me percorreu
Uma fraqueza que vinha das pontas dos dedos.
De saltos, cedi ao meu peso
Não só o do corpo
Mas das ideias também.
Cedi ao que eu tinha
me agarrei na solidão
com unhas e dentes
porque era a única coisa
real.
Tirei os sapatos,
tomei um remédio,
deitei.
Ainda assim,
a sensação
de não estar em mim,
continuou pela madrugada.