quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Desde o começo eu sabia, já tinha bem claro e definido que a fraca de tudo era eu.
Sabia que poderia ser em vão, que era risco o arrependimento mas mesmo assim tive a coragem de permitir ao peito: sinta.

Sempre tive medo de muitas coisas. Tenho o medo de falar pros olhos, tenho medo de criar diálogos, tenho medo de me perder nas imagens. Mas nunca tive medo de sentir. Me permito sentir qualquer coisa, me permito toda visceral. E mesmo que chore por dias, encostada nos cantos, escondendo o rosto, eu não vou me arrepender por ter sentido.

O amor é a busca de cinco segundos. Não há melhor definição do que essa. O amor são os cinco segundos de montanha russa, aflição e desejo, a pele em chamas, a alma nos poros pra ser percebida, a pupila que dilata. Os cinco segundos em que você sente o mundo. E que, frágil, se esvai, quebrando. Amor é a vontade de se sentir assim, de novo. A busca incessante pelos cinco segundos primários, procurar no corpo de um, na alma de outro, ou do mesmo, o que te fez sentir desse jeito. Mesmo sabendo que não volta. E assim, ainda que indignados, amamos o outro pelo sentimento, pela lembrança do começo. Pelo momento quebradiço que não soubemos cuidar.

E se eu te dissesse que contigo não foram segundos? E se eu te dissesse que são cinco segundos diários, que fazem com que eu te ame? Amor é palavra forte. Amor é palavra. Não só. Grande parte é composta por convenções que você não larga. Eu sim. Porque nesse ponto, sempre fui mais livre. Nesse sentido, nunca tive medo de querer, de recolher cacos e juntá-los de novo. Não tenho as amarras do meu tempo, porque meu tempo é de não ter amarras.

E se eu te dissesse que não foram cinco segundos mas uma vida inteira? 1460 dias e os minutos roubados. Traços na parede, um dia a menos.

Parece que nesse tempo todo, construímos o espaço. Tudo levou a isso. A construção do espaço invisível, muro contínuo de fibras unidas. Eu quis construir um momento. Eu quis construir um algo que você tivesse vontade de zelar por ele, acalentar nos braços, abrir mão da vida pra viver daquilo. Só consegui construir a lacuna - e é isso que levo nos braços.

Queria agora a coragem que tenho ao sentir, pra rasgar todos os papéis, jogá-los ao fogo. Mas mesmo marcado, o papel fica. Mesmo desintegrado, ainda reconheço a letra. Reconheceria mesmo cega.

É preciso coragem pra sentir. E isso eu nunca consegui te ensinar. Por falta de jeito, meu trabalho sempre foi assim descuidado. Dentro, não mudei nada? Não causei nenhum incômodo? Eu sempre fui dessas que julgavam ser ervas-daninhas, ao menos nisso. Sempre jurei a mim mesma que iria marcar você, que iria machucar você pra ter o prazer de cuidar depois, o prazer de ferir pra curar com afago. O que vou deixar como lembrança? Um espaço real? Um espaço vago? Vento no corredor, vento entre muros. É isso, ou talvez seja até muito. Espaço é matéria. E eu sou?

É de se espantar o fato de querer atear-me fogo. É de se espantar o fato de eu querer escapar da história, adentrando nela. Mas posso reconhecer-me como símbolo e isso me dói. Os símbolos são internos, você não os vê, mas existem. É por pensar que mesmo eu sou parte disso tudo. Mesmo eu tenho marcas tuas. Mesmo eu sou você. O rosto que você já olhou, a pele da mão que você toca quase com medo, cada centímetro de tecido, cada milímetro de coração, cada pedacinho de célula já foi teu. E o que faço com isso?

Marcar feito tatuagem. Queria ser capaz de encher a boca de ar e dizer: Eu te amo! Queria encher a boca de ar e só falar amor. Exagerar no r, escancarar a boca, deixar a última letra perdida, voando feito balão.

A voz não foi feita pra outra coisa se não cantar. Não sei recitar poesia, não sei falar. A voz é instrumento pros que amam. Melosa, tenho meus próprios acordes. A voz de quem tem medo mas canta porque precisa. Baixinho, canta porque não tem outros meios de pedir comida – ou amor. E canta olhando nos olhos que é pra passar a mensagem. Junto com a voz de quem sabe e demonstra força e altivez, mesmo que não consiga – ou não se permita – sentir. Pássaro sábio, coragem de mundos, não demonstra fraqueza sequer por um segundo. Confiante e determinado, canta porque sabe (sabe?) onde quer chegar. E não fraqueja ao menos uma vez ao olhar nos olhos. Naquela hora sabia que não havia o barulho, o sol, as marcas. Era só o pio. Canto de quem aprendia a cantar. E quem foi que aprendeu?


...

Um comentário:

  1. ' quero ficar no teu corpo
    feito tatuagem
    que é pra te dar coragem
    pra seguir viagem
    quando a noite vem ' [.c.b.]

    sim, sentir dói.

    Muito.


    até.

    bjo, bjo, bjo...

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