segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sentada em um banco, no meio da rua. Naqueles lugares incomuns. Os lugares comuns me cansaram, pois lá nunca consegui ver ninguém. Não realmente.

Estaria lendo um livro – talvez Gombrich, talvez Argan, quem sabe Ionesco ou Guy Debord ou um livro com trabalhos de Modigliani e Egon Schiele. Talvez eu esteja só desenhando, rabiscos com um lápis qualquer enquanto observo uma pessoa um prédio meus próprios pés.

E no meio dessas divagações, ele apareceria. Sentaria do meu lado no banco, olharia para mim disfarçadamente, pedindo licença ao sentar – educado desde o primeiro momento- tirando também um livro, um caderno, um projeto. Olharíamos um para o outro como quem não espera nada – porque sabemos que nessa cidade, o esperar é perigoso. Até que toma coragem e se aproxima, repara de repente nas mãos sujas de tinta que carrego como troféu. Você tem mãos lindas – ele diz. Sua voz baixa como sussurro, certeira.
...

Ele conheceu tudo o que eu tinha. Eu me entreguei já no primeiro momento sem nem perguntar quem ele era. Tinha um nome, tinha, e era bonito... acreditei na voz dele mesmo sabendo que poderia mentir a qualquer momento. Não sei se ele era filósofo, artista, ator, poeta. Quem sabe ele era um conjunto de todas as coisas. Carregava os olhos doces e carentes, a figura imponente e altiva e as mãos, as mãos eram como as minhas, sujas de tinta.

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