Sentada em um banco, no meio da rua. Naqueles lugares incomuns. Os lugares comuns me cansaram, pois lá nunca consegui ver ninguém. Não realmente.
Estaria lendo um livro – talvez Gombrich, talvez Argan, quem sabe Ionesco ou Guy Debord ou um livro com trabalhos de Modigliani e Egon Schiele. Talvez eu esteja só desenhando, rabiscos com um lápis qualquer enquanto observo uma pessoa um prédio meus próprios pés.
E no meio dessas divagações, ele apareceria. Sentaria do meu lado no banco, olharia para mim disfarçadamente, pedindo licença ao sentar – educado desde o primeiro momento- tirando também um livro, um caderno, um projeto. Olharíamos um para o outro como quem não espera nada – porque sabemos que nessa cidade, o esperar é perigoso. Até que toma coragem e se aproxima, repara de repente nas mãos sujas de tinta que carrego como troféu. Você tem mãos lindas – ele diz. Sua voz baixa como sussurro, certeira.
...
Ele conheceu tudo o que eu tinha. Eu me entreguei já no primeiro momento sem nem perguntar quem ele era. Tinha um nome, tinha, e era bonito... acreditei na voz dele mesmo sabendo que poderia mentir a qualquer momento. Não sei se ele era filósofo, artista, ator, poeta. Quem sabe ele era um conjunto de todas as coisas. Carregava os olhos doces e carentes, a figura imponente e altiva e as mãos, as mãos eram como as minhas, sujas de tinta.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário