terça-feira, 17 de abril de 2012

Ele disse em tom de brincadeira. Mesmo sabendo, uma certa angústia me leva à varanda noite após noite na esperança da ordem da descida. A ideia da mudança abrupta e não-pensada, do ato inconsequente, da nova vida, do novo cativeiro. Saio das asas de mãe pra armadilha que ele preparou pra mim. Eram boas as iscas e o jeito de conduzir os fatos. Com determinação, faço as malas. Não é preciso muito: uns poucos papéis e lápis da vida antiga acho que dão conta. Na nova gaiola, ele cuida de mim. É preciso queimar as roupas, o rosto antigo, os velhos hábitos. Nenhum carro é o dele, nenhuma silhueta de homem se assemelha. Mesmo em tom de brincadeira, eu ainda espero que me deem ordens. Não jogarei tranças ou lençóis para a descida mas, orgulhosa, irei ao seu encontro, buscando os grãos que espalhou pra me atrair.

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