segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O siso é meu dente-autorretrato. Passei longo tempo com dentistas me dizendo que eu não o possuia. E a gente aprende a acreditar nos tais do jaleco branco. Por anos acreditei que passaria os dias sem o tal dente do juízo. Aos dezoito, o incômodo não só dos hábitos ou das zonas de conforto mas da dor de dente surgiu. O siso, ou o juízo, bateu no dente do lado, avisando presença. Não quis aparecer. Inteiro, totalmente formado e bonito, bonito como todo dente ou coisa de origem, antes que eu toque com minhas mãos, e deitado, como que sem força ou não se achando capaz de mostrar-se do lado de fora da minha gengiva. Assim como eu. Sem espaço, na boca, se espremeu como pôde.
Deitado, formado e com medo de sair pra ser julgado torto, mal sabe ele que, pelas suas escolhas e por quase atingir meus nervos, vai ser retirado. Pelo menos, pretendo guardá-lo. Já eu, não sei se teria a mesma sorte. O destino de alguns deve ser mesmo permanecer escondido. E dois corpos não ocupam a mesma sina.

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