quinta-feira, 3 de outubro de 2013

As costelas, as costelas, os ossos do quadril. Notar que tenho articulações e músculos e que consigo estalar o pescoço. Reparar que pisco, que minha caixa torácica se move estranha quando respiro. Tenho a mania de andar com as mãos nos bolsos. Se uso uma blusa que não os possui, não sei o que fazer com as mãos. Deixá-las largadas ao lado do corpo não me parece natural. As vezes ando torto, erro o passo. Passei dezenove anos sem sentir a cidade. Nunca abracei uma árvore. Nunca fui de falar com estranhos, dar bom dia, puxar papo. Não me permiti aventuras por ruas que não conheço. Meu trajeto todo é programado. Nenhum passo a mais, nem a menos. Ando sem me perceber corpo. Um automatismo que achava natural. Eu ando porque eu ando. Nenhum músculo, nenhum pé ante pé, nenhum método me vem até a cabeça. Quando foi que eu comecei a andar sem perceber que andava? Quantas pessoas deixei passar sem que desse ao menos um olhar no rosto? Faixa de pedestre, lixo na calçada, olhar pra baixo, olhar pra baixo. Exercício difícil mover a cabeça pra cima. Perto - longe - distante demais. O céu é cinza o céu tem seus próprios trópicos - fios que formam desenhos, bolas de lã, ideias confusas. A textura das paredes das casas, o embaçar dos vidros na chuva, inventar meus métodos de caminhada. Andar na contramão, no contrafluxo, ser apenas do contra. Chorar numa esquina, sentar na escada de uma casa qualquer, parar o próprio tempo pra vê-lo passar nos outros. As vidas que eu podia ter, as vidas que eu queria ter, as vidas. Relatividade. Afeto. Relação. Atividade.

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