segunda-feira, 7 de abril de 2014

A coisa que mais sinto falta das consultas na psiquiatra é a falsa ideia de mundo paralelo. São, salvo (e a sanidade é tudo o que nós, os pacientes, não temos.) A assepsia do consultório. Suas bolachas e chás sempre nos devidos lugares (e nunca faltam.), as revistas e cds que ninguém nunca nem colocou as mãos. O mais importante ali, no entanto, era a prateleira das doações de livros: pegue um, deixe outro. Eu sempre pegava um ou dois ou três - Camus, Sartre, guias psiquiátricos com seus CID como hieróglifos- mas nunca deixei um livro meu. Era meu modo particular de me sentir quebrando a ordem natural das coisas. E, mais importante, me sentir movendo aquele ambiente quase inóspito da sala de espera e suas paredes eternas, onde todos os que ali se sentavam eram vistos pelos olhos médicos como tão vivos quanto a cadeira ou o vidro com balas. Ali, enquanto eu roubava livros só pelo prazer de colocá-los na bolsa sem deixar outro em troca e recolhia todos os doces do pote pelo gozo de vê-lo vazio como eu, me sentia Deus brincando com vidas. Ou, em outros termos, a psiquiatra analisando pacientes.

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