quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Descobrir um novo uso para os vidros embaçados da varanda: o de escrever poesias.
Escrevo o teu nome inteiro do lado do meu com corações com sua caricatura com palavras de amor de livros ou minhas e as gotas da chuva começam a sumir, escorrer pelo resto do vidro, deixando aquela marca que se assemelha a um choro. Nunca havia percebido que, quando se escreve assim, as gotas vão caindo até o fim do vidro, parecendo lágrimas. São sim, lágrimas. Só lhes falta o sal. A dor do choro já têm. É a dor de quem escreve com os dedos, de quem faz o vidro embaçar de novo e de novo só pra escrever poemas e desenhar rostos que, logo, se apagarão novamente, sem registro algum. Quase como se não existissem. No fim, eles não existiram. Escrever no vidro é colocar para fora as dores, é como dizer para a cidade um amor que nem você sabe. É afirmar ao mundo, mesmo que o mundo, pra mim, não passe de uma avenida movimentada: eu te amo.

Eu te amo pelo tempo que a chuva dura. Eu te amo pelo tempo que o vidro permanece embaçado, pronto para receber segredos que não colocaria mais em lugar nenhum. Posso esperar que a chuva dure para sempre? Mas eu sei que depois sai o sol e leva tudo embora. Nesses dias, há chuva sem parar. Chuva desde quando acordo, chuva que me espera na varanda. Como se os astros, os deuses, os fenômenos da natureza adivinhassem e dissessem: vem que está tudo pronto, vem que já é hora de dizer ao mundo, vem que te cuido e te encho de zelos e cuido do teu amor por ele. E eu me entrego.

É sempre nublado. Esse tempo nem claro nem escuro que me deixa assim. É sempre esse cheiro de água, de lágrima de tanta gente. A chuva prepara tudo pra mim. Embaça os vidros, prepara o que preciso. Só falta escrever. E lá vou eu, descalça, cheia de uma vontade inexplicável. Seria tudo escuro, não fosse pelas luzes que nessa época do ano invadem todas as casas. Tudo converge para uma única coisa: o amor. Menos o meu. O meu nem é meu mais, o meu está no vidro, o meu está colocado para o mundo inteiro ver, o meu é em forma de desenhos, sem cor, feito com o dedo, simples, arcaico, bruto, como acho que devem ser todos os amores – e não são.

Eu queria era encher o vidro de tinta. Uma coisa que fosse mais eterna, uma coisa colorida e bonita que todos, acho que até você, pudessem ver. Mas nunca fui assim tão artística e sempre fui mutável. É melhor deixar com a chuva. Assim, a água também leva o que coloquei lá, numa forma de levar embora também da mente. E nem sei se nosso amor já ganhou cor - por não ter certeza se vale a pena o colorir.

Isso já está me doendo os olhos, dando aquela vontade de fechá-los e só acordar amanhã. Mas amanhã também estará chovendo, e pelo resto da semana, do mês. Chuva é um estado interno, não de fora. Acho que ela é muito mais estado de espírito do que fenômeno da natureza. E eu, no momento, estou totalmente dentro de uma tempestade daquelas.

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