terça-feira, 7 de agosto de 2012

Andava na rua como se estivesse decidida a morrer. Mesmo Tábata que não era nunca de chorar na frente de alguém teve que cobrir o rosto no braço pra esconder as lágrimas. Seus olhos estavam encostados contra o couro e com eles fechados podia jurar que o casaco era o dele. Desceu do ônibus aos tropeços, no ponto errado. Não que não soubesse onde estava, só queria andar mais. Perdeu a conta de quantos carros buzinaram por ela ter atravessado sem olhar para nenhum lado. Sua filosofia de vida era a de que se quisessem parariam para que ela passasse. Nesse dia em questão não sabia se queria que parassem. Sua mente dizia que não. Talvez fosse um bom modo de desaparecer por completo. O pensamento que vinha era o de que as rodas fossem, quem sabe, continuações das pernas. Ou a invenção dos homens para parar de usá-las. Sem utilidade, atrofiariam uma hora ou outra. Tudo o que não se usa, atrofia-se. O que acontece, então, com o que se usa demais? Desenvolve-se? Tábata não sabia. Desenvolver era evoluir e ela não achava que podia. Ocorreu-lhe que talvez quisesse seu coração atrofiado. Era impossível. Tinha a certeza de que esse era seu músculo com mais uso – seguindo fielmente a lei de Lamarck. O vento forte que fazia batia no rosto de choro e secava as lágrimas. Esse vento forte tinha nome: Marco Antônio. Aquele homem era o vento, o som do freio dos carros que passavam por Tábata – a louca – na grande avenida. A salvação e sua ruina. Era tudo. Era um ponto na página em branco. Lembrou do seu poema de infância. Os relâmpagos vermelhos que o céu inteiro incendiavam. Era outra a origem da tristeza. Nada vinha de fonte limpa, como a deles. E era outro o canto que acordava o coração para a alegria. Não lembrava a ordem. Mas sabia que era tudo ele. Ele em cada letra. Ele o canto. Ele a voz. Ele o coração. Como uma roda. Ela era a perna. Então vem o baque. O encontro. Metal indo contra orgânico. Barulho de relâmpago atravessando o céu. A boca de Tábata se abre com dificuldade para gritar por Marco Antônio. Como um demônio, ante seus olhos. Pela última vez.

Um comentário: