domingo, 24 de junho de 2012

Com um cigarro na mão (achado na bolsa, provavelmente de seu visitante da noite anterior e de todas as outras noites), fumava de janelas fechadas – afim de manter só pra si aquele momento, aquele cheiro, aquelas cinzas. Pela pouca claridade que ousava entrar, observava curiosa os males (embora achasse que de males eles nada possuiam) causados por ele. Contabilizava, até então, duas unhas quebradas na fúria, uma meia-calça inteiramente rasgada, diversos hematomas na parte interna das coxas, joelhos e ombros, pulsos marcados por mãos mais fortes que as suas, nítidos contornos de dedos no pescoço e uma queimadura de cigarro, no pulso da direita. Uma rápida olhada no quarto (que não era o seu, nem o dele) a fez perceber os estilhaços de vidro, o rolo de fita adesiva, o monte de roupas empilhadas. Quando levantou, não fez questão de desviar dos cacos. Na parede vermelha daquele quarto alugado só pros dois, marcou com lápis de olho um novo risco. Mais uma noite ao lado dele. Mais uma noite em que se sentia viva, como nunca.

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