terça-feira, 19 de junho de 2012

Ruínas de madeiras de móveis atacadas por cupins e outras pragas urbanas. A construção inteira parecia querer dizer algo sem encontrar boca. Falava em seu próprio modo: o piso que gemia a cada passo, mesmo que ele não fosse firme o bastante – a sua principal visitante não tinha esse tipo de andar. As janelas faziam grunhidos quando ela tentava fechá-las, talvez porque a casa não quisesse se fechar ainda mais. A porta jazia trancada com cadeados diversos mas a intrusa era ousada, encontrando buracos nas paredes que cavava com as unhas, ávida para entrar. Sabia que ali dentro se escondiam mundos, embora o exterior omitisse certas características. Gostava de passar a mão pelo corrimão da escada, fotografar com os olhos os descascados dos papéis de parede, retirar o pó sob os retratos. Se interessava por conhecer sua história. Sabia que nenhum livro ou opinião de vizinhos iria lhe dizer de modo certo. Só a casa poderia abrir espaço para ela, mandando de propósito um vento que murmuraria em seu ouvido as mais diversas palavras. (E se agora fecho os olhos, o vento da casa vem brincar com meus cabelos).

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