domingo, 27 de fevereiro de 2011

Não sei por que fui falar logo tua música. A primeira. Não sei, ele me perguntou uma música que havia me marcado e eu já estava decidida a não mentir. Ele me perguntou e foi a única que consegui lembrar. Na verdade, eu lembrava de várias, mas essa era a que eu queria falar. Essa foi a que me despertou pras outras, então não teria sentido falar das outras sem a que deu início. Eu já estava certa de que falaria mas nada aconteceria. Falei. Eu sei porque foi logo tua música.
Depois quando fui assistir às minhas verdades, enquanto todos chegavam, enquanto todos bebiam e falavam, enquanto tudo isso acontecia e girava e girava lá estava eu sentada, com a bolsa no colo como fico quando não me sinto confortável. E uma bagunça de notas me fez prestar atenção ao som, a desligar vozes e só prestar atenção na música. Uma troca de olhares com ele já confirmava o que antes era suspeita. A bagunça logo despertou em mim a certeza da tua música na sala. E ninguém entendia, era esse o propósito, ninguém sabia de quem tinha vindo, pode ser ao acaso, como pode não ser e continuaram na mesma, bebendo e bebendo e falando. E ninguém sabia de onde vinha a história, de onde vinha a música. Só eu e ele, o ouvinte. Só eu e ele, o que arquitetou e planejou tudo aquilo, o que se divertia com meus olhares ouvindo a música do outro, enquanto eu segurava o choro, as pernas inquietas e as unhas que machucam os joelhos e os braços de propósito, pra ver se a dor de fora consegue ser pior do que a de dentro. Por exatos 2 minutos e 55 segundos, o mundo compartilhou da minha história. Mesmo que esse mundo se resuma a um punhado de pessoas bebendo e falando sem se importar se a música era tua, ou não.

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