segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Divagações (não tão) tolas sobre arte.

Arte hoje não é uma coisa que deve ser destruída para um recomeço. Todos são artistas, é uma coisa inata ao ser humano: a arte. Só nos esquecemos de deixar isso fluir, de treinar, e a capacidade acaba perdida no tempo, criando o pensamento tão em voga hoje de que artista e arte são coisas sublimes, em patamares superiores e que não são para qualquer um. Arte tem a ideia de complexidade, de intelectualidade e não é. Arte é das massas, qualquer um pode entendê-la.
O que penso é que damos muito valor às obras-primas, taxando-as de difíceis e inacessíveis. Achamos que tais obras não nos servem. Ao contrário: servem e muito, só precisamos aprender como enxergá-las. Não podemos visualizá-las como obras pertencentes ao passado e só, sem uso para o hoje. Devemos, ao contrário, ser capazes de transportar esta arte para o que vivemos. Treinar a habilidade de levar o conceito da arte para a pós-modernidade.

Ao ouvirmos o mito de Édipo, por exemplo, podemos pensar que é algo inútil, velho e desgastado pelo tempo – sem perceber que ele continua atualíssimo, basta que o transportemos para o atual. Basta que mudemos palavras, tempos, pessoas, culturas, hábitos. A essência, essa, continua intacta. A humanidade anda em círculos. O que muda são os gestos, o tempo. A ideia é sempre original. Se soubermos como levá-la para o cotidiano, para o que nos cerca, toda arte é do presente. O problema é que isso não nos ensinam. Não nos ensinam a ver a raíz, só enxergamos o topo, o supérfluo, só conseguimos sentir o cheiro de antigo, as palavras arcaicas.

Os problemas continuam sempre os mesmos, os amores, as dores. É nosso dever restaurar, ensinar, aplicar diariamente essa habilidade esquecida de transpor barreiras para que a arte continue sendo arte – para que, mesmo antiga, a arte continue nos fazendo sentir e – principalmente – pensar.

Precisamos parar com a noção que nos implantaram de que arte é para poucos, arte é para burguês, elitizados. O que podemos e devemos fazer é transportar a arte e modificá-la para uma fácil compreensão nossa, sem retirar-lhe o sentido, o núcleo.

A morte de qualquer arte se dá quando separam(os?) o artista do público. Quando o público se torna passivo, a arte tem seu fim - ela se isola para poucos, perde uma de suas funções: a de acordar e atingir o maior número de pessoas possível.

O que podemos inferir se formos passivos continuamente? O que podemos pensar ou deduzir se recebemos a explicação do criador, mastigada, entregue diretamente em nossas mãos, e esquecemos de criar a nossa própria explicação? Quando recebemos a opinião do criador, esquecemos da nossa, por achar que qualquer coisa que fuja do que ele pensou está errada, e tomamos como verdades absolutas o que nos é mostrado. Sendo que arte está longe de ser uma coisa de opinião única, uma arte de uma mão só, uma ida, um caminho. Arte é ramificada, obras de arte são veias que podem se encontrar ou não – e quanto mais se distanciam umas das outras, tanto melhor! Nos faz pensar, nos faz acreditar – finalmente- que não há uma só verdade. Por isso digo que devemos procurar sempre uma segunda, uma terceira, uma quarta opinião para que só assim possamos refletir realmente e tomarmos para nós mesmos o que achamos. Precisamos ser um pouco mais empiristas, lembrando sempre de jogar a própria opinião no meio de todo esse conjunto.

Parar de mimetismo – esconderijo, camuflagem – e tomar partido.

3 comentários:

  1. Não creio que a arte tenha uma imagem elitizada e burguesa na sociedade brasileira. Pelo contrário, as elites só visitam museus quando estão na oropa ou nuzistaduzidos, sem ter a menor idéia do que estejam vendo ou de que o objetivo daquilo seja suscitar uma emoção outra que narcisismo e pretensão.

    Sem entrar no mérito da arte consagrada como 'de museu' (esta está permanentemente na UTI neste país), pelo que vejo, a arte brasileira é jovem, de classe média liberal dos grandes centros urbanos. Uns carinhas que se juntam para formar uma bandinha aqui, um fotógrafo ali, um street performer num calçadão.

    De resto, concordo com tudo. Um artista, como um pai, não pode nos mostrar como interpretar uma obra. Elas pertencem ao mundo, às pessoas, às experiências pessoais de cada um.

    Não costumo tomar partido, mas fui inspirado. Hahaha.

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  2. Classe média no Brasil não é maioria e, pertencendo a ela, é fácil dizer que não é elitizada não?

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