domingo, 4 de outubro de 2009

Mergulho sem volta

Porque eu já estava mergulhada demais nisso. Sem a mínima chance de voltar a superfície. Eu já tinha ido onde nenhum outro havia ido. Até o fim, até onde eu consegui. Mergulhei de cabeça e não digo que mergulhei de uma vez só, mas foi rápido.
Foi tão rápido que nem perguntei se era isso mesmo que eu queria – mesmo sabendo que, se mergulhasse, não poderia voltar atrás. Aquelas atitudes que se faz e só depois se questiona: foi assim.

Não me arrependo, daqui onde estou. Mas agora surgem dúvidas, surgem interrogações em minha mente.

E fiz isso que fiz por saudade. Fiz por sentir falta de alguém. Mergulhei de cabeça no novo, no inesperado, no proibido. Mergulhei só, mergulhei comigo mesma e mais nada. E enquanto descia, não pensava em coisa alguma. Só era capaz de ver as alegrias que eu teria, se chegasse até onde ninguém chegou. Só quando cheguei perto do fim, fui tendo dúvidas. A possibilidade da mentira. Manipulação? Pois nunca havia pensado. Então, tudo o que fiz, minha descida dolorosa, meu mergulho, não foi nada? Aquilo que pra mim tinha sido um passo tão grande, uma conquista, pra você não passou de atuação?

Eu me joguei de cabeça, sem perceber se você estava fazendo o mesmo. Só quando cheguei ao fim, percebi que você permanecia na superfície. Mas não tinha volta pra mim. Eu estava fadada a ficar no fundo, presa naquele emaranhado de fios e sentimentos desconhecidos. A água me invadia, com força, devagar, intrusa. E ia de encontro ao peito, a mente. Em minutos, não pensava mais em mim. Eu era só você. E continuava ali, afundando cada vez mais no desconhecido- que era tão bom! E você me olhava da superfície, alheio a tudo aquilo, manipulador.

Daqui do fundo, não consigo te ver nitidamente. As vezes penso que é melhor, pois não vejo se fala a verdade ou mente. Não sou capaz de ver seus olhos e- assim- não caio mais em suas mentiras. Ao mesmo tempo, me sinto sua escrava, dependente. Pois a única coisa que me guia, daqui da escuridão, é sua voz.

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